No início do século XX, época na qual as pegas estavam sobretudo a cargo de Grupos de Forcados Profissionais, que cobravam pela sua participação nas corridas, começaram a surgir alguns grupos de amadores, não organizados, que pegavam em alguns espectáculos. Corria o ano de 1915 e a jovem República vivia um clima de agitação política até então nunca antes vivida. Uma alternância instável de políticas, ideias, rumos, prioridades. Neste ambiente social gera-se uma certa hostilidade contra os costumes antigos, e a “tourada”, na sua acepção tradicional e fidalga, não foi excepção. As empresas utilizavam toiros já corridos, e o toureio teve de se adaptar a esta realidade. Por seu turno, os moços de forcado que existiam na altura eram quase todos profissionais, embora vivessem quase sempre com dificuldades: “Vivem disto. São homens pobres. A pequena quantia recebida é dividida por todo o Grupo, ficando o cabo com o quinhão maior. O que ganham não dá nem para um bilhete de comboio em terceira classe. É frequente vê-los a vender a lotaria nacional à porta das praças…. e a fazerem colectas nos intervalos das corridas utilizando um capote de toureio para recolher as moedas que o público lhes atira. Quando há gente importante na barreira, já se sabe a quem é brindada a pega! Voa o barrete e o brinde na esperança de que volte recheado de cobres.” (in “Grupo de Forcados Amadores de Santarém – Os Primeiros 100 Anos”, de Maria João Lopo de Carvalho) E foi neste contexto que o Grupo de Forcados Amadores de Santarém deu os seus primeiros passos. Num destes grupos, que se anunciava do Ribatejo, comandado por Jayme Godinho, pontificava um valoroso forcado chamado António Gomes de Abreu. Com António Abreu, um jovem de apenas 17 anos, nasceu um novo modelo que romperia com o profissionalismo vigente e chegaria à Festa dos nossos dias e que está na origem do espírito que preside a todos os Grupos actualmente existentes. Para este Grupo, a pega é um gesto que não tem preço, é um grito de verdade, de entrega... Apresentaram-se pela primeira vez em publico na antiga praça de Almeirim, com um êxito que ficou assinalado, numa corrida em que pegaram 10 toiros: 5 de António Branco Teixeira e 5 de Ribeiro Telles, toureados por David Godinho e D. Alexandre Mascarenhas “Fronteira”. Fizeram parte da primeira formação: Diogo do Rego, João da Costa, Manuel Esteves, Joaquim de Aguiar, Miguel Calado, João Figueiredo, Fernando de Vasconcellos, José Maria Antunes, José Maria Pedroso, Casimiro Igrejas e o já referido António Abreu. Provavelmente nenhum deles imaginaria a epopeia que estavam a iniciar! António Abreu foi cabo 30 anos, durante os quais o prestigio, a fama e o número de elementos que passaram pelo Grupo de Santarém não parou de crescer. Já nesta altura o Grupo de Santarém era um Grupo Nacional com forcados vindos de todas as regiões de Portugal. Mais do que em qualquer outro Grupo até aos dias de hoje o Grupo de Forcados Amadores de Santarém foi portador desta característica de ter entre os seus elementos forcados naturais de muitos lugares além de Santarém. Em 1945 D. Fernando de Mascarenhas recebeu a chefia do Grupo. Além de ter mantido inabalado o espírito do mesmo, foi também fundamental no acompanhamento da evolução do toiro bravo, aproveitando-a para guindar a pega à categoria de arte do toureio, estabelecendo os terrenos, o cite de largo, o recuo e o momento da reunião. Em 1948 tornou-se cabo Ricardo Rhodes Sérgio, verdadeiro ícone de amor ao Grupo de Forcados Amadores de Santarém. Com uma dedicação inigualável acompanhou muitas gerações de forcados ao longo dos 33 anos que vestiu a nossa jaqueta, elevando o Grupo a padrões de qualidade nunca antes vistos e, em especial, vincando o espírito de família que o Grupo já se tinha tornado. Em 1965, reconhecendo o seu papel e a importância de que se havia revestido ao longo dos seus primeiros 50 anos de vida, o Presidente da Republica de então, Almirante Américo Tomás, condecorou o Grupo de Forcados Amadores de Santarém. Depois de Ricardo Rhodes Sérgio, coube a José Manuel Souto Barreiros a chefia do Grupo. Mesmo na atribulada década de 70, os Amadores de Santarém continuaram a destacar-se quer dentro quer fora da praça mantendo o nível a que tinham habituado os aficionados. Também nesta fase o Grupo fez as suas primeiras digressões ao estrangeiro, espalhando por outros lugares a arte de pegar toiros. Posteriormente, em 1979, tomou o comando do Grupo Carlos Empis que assegurou uma importante fase de transição do Grupo. O período em que o capitaneou, apesar de curto, não deixou de ser marcante. Em 1981 tornou-se Cabo Carlos Grave, com pouco mais de 20 anos. Mais do que nunca se nota no Grupo a característica de os filhos seguirem os passos dos pais, sucedendo-lhes no gosto de pegar toiros: Abreu, Mascarenhas, Murteira, Grave, Goes, Neto, Souto Barreiros, Gameiro, Paim, Megre, Lebre, Sepúlveda, etc. são apelidos que se vão repetindo nos cartazes ao longo de gerações. Tal como nas bodas de ouro, o Grupo foi novamente condecorado, em 1990, pelo então Presidente da Republica Mário Soares, por ocasião do 75º aniversário. Em 1996, na Monumental Celestino Graça, torna-se Cabo Gonçalo da Cunha Ferreira que conduziu os destinos do Grupo ao longo de seis épocas. Além de ser um forcado difícil de igualar, tais os seus méritos, o Gonçalo conseguiu continuar a transmitir os valores nos quais se construiu a História do Grupo de Santarém, mantendo-os válidos e actuais mesmo para as novas gerações cada vez mais urbanas e desligadas de manifestações culturais tradicionais como é a arte de pegar toiros. No final do seu percurso como Cabo foi ainda um dos principais impulsionadores da formação da Associação Nacional de Grupos de Forcados, entidade que se espera cada vez mais importante na defesa e preservação da Cultura e do Espirito dos Forcados Amadores. Em representação do Grupo de Santarém, e por decisão unânime dos Grupos Associados, foi escolhido como Presidente da primeira Assembleia-geral da Associação. Gonçalo passou, em 8 de Junho de 2002 o testemunho para Pedro Figueiredo “Graciosa”, forcado experiente e completo, que se tornou assim no oitavo Cabo do Grupo de Santarém. O Pedro veio a desempenhar exemplarmente esta função durante seis importantes épocas, caracterizadas por inúmeras corridas de compromisso, mas também pelo fortalecimento do espírito de união, solidariedade e abnegação já existente no seio do Grupo. Em 14 de Junho de 2008, num momento importante da já larga História do Grupo de Santarém, marcado por mais um processo de renovação de gerações, tornou-se Cabo Diogo Sepúlveda, abrindo praça de forma brilhante na Monumental Celestino Graça. Nascido na freguesia de Marvila (como aliás António Abreu, o cabo fundador do Grupo) Diogo Sepúlveda cresceu numa família em que a afición aos toiros só era superada pela devoção ao Grupo de Santarém. Com um percurso notável como forcado – ousado, perfeccionista, poderoso – e um nome reconhecido na sua área profissional, a sua escolha como cabo foi por todos vista como acertada e natural. Durante as 8 épocas em que esteve à frente do Grupo de Santarém, Sepúlveda manteve inalterados a matriz e os princípios que estão na génese da sua fundação em 1915, não deixando contudo de lhe apor um cunho pessoal. No âmbito das celebrações dos primeiros 100 anos ininterruptos de actividade, em 2015, comandou o Grupo de Forcados Amadores de Santarém quando lhe foi atribuída a medalha de Ordem de Mérito, pelo Conselho das Ordens de Mérito Civil. Liderando através do exemplo e do sentido de responsabilidade, marcou com raça uma geração que tudo fez para estar à altura deste Grupo centenário. A 10 de Junho de 2016 torna-se Cabo João Grave, natural de Évora cidade onde nasceu no ano de 1989. Antigo aluno do Colégio Militar, a “herança” paterna Murteira Grave ligou-o desde sempre à tauromaquia e ao Grupo de Santarém em particular. Desde que se estreou pelo Grupo de Santarém, tem vindo a crescer como forcado e a tornar-se gradualmente numa das referências da sua geração. Avesso a protagonismos, calmo e determinado, é reconhecida por todos a sua entrega ao seu Grupo e aos valores que o notabilizam. Foi o décimo Cabo do Grupo de Santarém, numa bonita história que já dobrou o seu primeiro centenário, juntando-se a um rol de nomes ilustres que têm vindo a engrandecer Portugal e a Festa dos toiros. No dia 10 de Junho de 2023, Francisco Maria Vaz de Almada Pereira de Figueiredo torna-se Cabo. Natural de Idanha-a-Nova, nascido a 4 de Março de 1996. A “herança” paterna Graciosa ligou-o desde sempre à tauromaquia e ao Grupo de Santarém em particular. Determinado, dentro de praça e na sua preparação, o Francisco tem vindo a crescer no Grupo como ser humano e forcado, tornando-se uma referência dentro dos activos. É reconhecida por todos a sua entrega ao Grupo de Santarém, e aos valores que o notabilizam há mais de cem anos. Muito relevantes para a nossa história são as senhoras que ao longo de todas estas épocas nos acompanharam. Mães, mulheres, irmãs, namoradas e amigas, foram e são muitas vezes aquelas que mais sofrem mas que com as suas orações, companhia e apoio nos suportam e nos incentivam. Merecem nota especialíssima as nossas madrinhas, Dona Maria Helena Fragoso, nossa 1ª madrinha e que acompanhou o Grupo ao longo de toda a sua vida, e, a partir de 1987, a Dona Maria da Conceição Abreu Cabral (carinhosamente tratada por Tia Bindes) que sempre nos acompanha e nos dá alento! Por fim, e como boa prova de que o Grupo de Forcados Amadores de Santarém é um viveiro e uma escola de FORCADOS é um orgulho referir o facto de alguns dos seus elementos terem sido, posteriormente, fundadores e cabos de outros Grupos, como aconteceu, por exemplo, com Simão Reis Malta (cabo fundador do Grupo de Forcados Amadores de Montemor), Joaquim José Capoulas (Cabo do Grupo de Forcados Amadores de Montemor) e João Nunes Patinhas (cabo fundador do Grupo de Forcados Amadores de Évora). Actualmente somos cerca de 35 forcados no activo com uma média de idades perto dos 25 anos, herdeiros dos mais de 500 Homens que escreveram a nossa história. Temos ainda, e sempre, o Grupo do Futuro com os elementos mais novos que sonham ser aqui forcados. Num mundo diferente, perante novos desafios, o Grupo actual sente-se honrado por tentar preservar a mesma matriz dos seus fundadores. O Grupo de Forcados Amadores de Santarém continuará orgulhosamente a assumir a sua herança enquanto Grupo mais antigo de Portugal procurando, com a ajuda de Deus e a protecção de Nossa Senhora, elevar cada vez mais a figura do Forcado Amador e a arte genuinamente portuguesa de pegar toiros. Porque desta forma, no nosso entender, se está a servir Portugal e a honrar aquilo que nos faz Portugueses. Pelo Grupo de Santarém, venha vinho! Venha!!! |
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