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"Celestino Graça" voltou a encher!

Depois do aquecimento no festival de Monforte a temporada a sério começou ontem e logo na nossa praça!

Se o começo de cada temporada é sempre uma ocasião especial e que mexe com todo o Grupo, a corrida de ontem foi ainda mais especial pois realizou-se em Santarém, na nossa praça, e ainda por cima com praça cheia com mais de 12.000 pessoas.

Já muito poucos do Grupo actual tinham visto a "Celestino Graça" assim e ainda menos se tinham fardado! Por isso a corrida de ontem foi um momento muito marcante.

Para tornar as coisas difíceis lidou-se um curro de toiros sérios, com idade, peso e trapio da ganadaria Cunhal Patricio. Estes adjectivos, tantas vezes usados de forma abusiva nos cartazes de toiros, foram ontem uma realidade muito presente pois os "cinqueños" da ganadaria coruchense saíram emorrilhados, ofensivos de cara e gordos (com pesos que oscliaram entre os 500 e os 550 Kilos).

Na fardamenta o clima dividia-se entre a ansiedade e a confiança. Ansiedade, normal antes de todos os compromissos sérios que se nota ainda mais no início da temporada, e confiança pois o Grupo vem de uma grande temporada 2006 e os treinos revelaram muita gente nova a querer andar para a frente. 2007 deverá ser uma temporada com muitas oportunidades importantes para a nova geração que tem vindo a aprender nos últimos anos e que agora se revela preparada para o salto. Valerá a pena ver o GFAS também para ver estas caras novas.

Após umas cortesias nas quais se podia ver o orgulho (pela praça cheia e pelo facto de estarmos novamente a pegar 6 toiros em Santarém) estampado na cara dos oito que as realizaram, saíu o primeiro toiro, um dos mais sérios de apresentação.

Depois de revelar um comportamento reservado na lide, normal nestes toiros de idade, em especial quando o cavaleiro não aperta muito, o Pedro decidiu-se pela confiança e deu o toiro ao António Grave de Jesus. Dar um toiro ao António é quase sempre uma decisão muito acertada e assim foi! Uma pega limpa, toureira, serena, confiante e segura, com excelentes ajudas dos terceiras que fecharam a pega com decisão.

O segundo toiro pareceu melhor durante a lide. José Manuel Duarte andou alegre com ele e este não parecia ter dificuldades de maior. Para a cara o Pedro escolheu o Peu Torres que não pegava um toiro desde Junho de 2006 quando se aleijou nesta mesma Monumental "Celestino Graça" que tem sido muito madrasta para ele.

A colocação não correu bem pois o bandarilheiro não percebeu bem onde o forcado queria o toiro. Depois de algum tempo o Peu decidiu-se por iniciar o cite sem ter o toiro no sitio que entendia ser melhor. Um pouco fora das tábuas o toiro deu logo sinal de querer investir e começou a andar a passo para o forcado. O Peu esperou que ele parasse para se meter com ele e carregar mas o toiro só parou já demasiado perto. Ainda assim o Peu carregou e o toiro investiu sem aparentes más intenções, no entanto a reunião correu mal e o Peu ficou de chocalho. Depois seguiram-se duas tentativas que revelaram que estavamos em inicio de temporada... nem o Peu se agarrou com um leão, nem o Grupo ajudou como é seu apanágio. Pegou-se à quarta, com rijeza, um toiro que mesmo nessa tentativa empurrou com força e pediu meças aos ajudas.

O terceiro foi um autêntico boi. Ordinário do principio ao fim, reservadão, marrava até na sua própria sombra quando esta o incomodava mas não investiu uma única vez sem que tivesse nessa investida muitas más intenções.

Ao ver estas características o nosso cabo decidiu-se pela cernelha. Foi a oportunidade de vermos regressar o Ricardo Tavares que depois de um ano em que teve de estar ausente das pegas. Não foi ainda a cernelhar mas esta rabejação foi com certeza um passo importante para esse ansiado regresso. Para a cernelha foi o David Romão, sempre com a sua usual e louvável disponibilidade.

Como já é sina (quando é que os empresários, os ganaderos e os campinos ganham vergonha e arranjam uma solução que dignifique a figura do campino nas nossas praças de toiros?) o jogo de cabrestos estava tudo menos trabalhado e a dupla de campinos resumia-se a um pois o outro nem o barrete sabia pôr, quanto mais encabrestar um toiro.

Com estas dificuldades adicionais, incluíndo um cabresto que marrava de largo, o David e o Ricardo entraram uma vez sem sucesso, com direito a uma valente voltereta do David. Ao segundo intento concretizaram a pega, infelizmente sem brilho pois o toiro nem luta quis dar.

No quarto, um toiro também sério, tivemos a primeira grande oportunidade da tarde. Para a cara Francisco Goes, o nosso "Rei do Metal" que depois de duas épocas de "estágios e jogos amigáveis" parece agora lançado às feras. Com o entusiasmo e o peso próprios de uma oportunidade como esta o Francisco saltou a trincheira disposto a tudo. Citou com sitio e saber mas infelizmente o toiro não quis sair o que o obrigou a entrar muito nos seus terrenos. Por esse motivo a dificuldade foi maior quando o toiro arrancou e o Francisco, ao não recuar, recebeu mal o toiro que o desfeiteou, não sem que antes o cara bem se tivesse esgatanhado, já só com um braço, para lá ficar.

Na segunda tentativa, de novo com alma e com calma, o Francisco conseguiu fazer o toiro vir de mais largo e fechou-se com decisão tendo sido bem ajudado concretizando assim uma boa pega, que muitos, como eu, sonhavam ter feito, com a nossa jaqueta, diante da "Celestino Graça" cheia. 

No quinto da tarde, a pega da Corrida.

Se há muitos que são forcados pela adrenalina e pelo gozo de estar entre amigos, há os que a isto juntam afición e o gozo de ser artista. Para mim, e para muitos aficionados, há forcados que são toureiros. O Gonçalo Veloso é um deles. Penso que se há aficionados que fazem milhares de Kms para ver o Morante a dar um natural, também deverá haver os que fazem muitos Kms para ver o Gonçalo citar um toiro, pois vale a pena!

Ainda para mais o Gonçalo do final de 2006 e principio de 2007 percebeu que, além da arte, a essência de um forcado está no conseguir, no consumar a pega, e nas últimas 6 ou 7 pegas além de ser um toureiro a pegar o Gonçalito agarra-se para não mais largar concretizando pegas que nos fazem levantar da bancada e aplaudir de pé.

Claro que no GFAS não há forcados heróis e as pegas se fazem com 8. Por isso de nada serviria a arte do Gonçalo se não fossem as ajudas de todos. A pega de ontem foi muito bem ajudada, em especial por uma muito importante primeira do Francisco Empis e uma magnífica segunda do Miguel Navalhinhas.

A fechar a corrida saíu mais um toiro difícil, reservado, muito marcado pela idade avançada que dá sentido, saber e, muitas vezes, más intenções.

Para a cara foi escolhido o Francisco Barata "Vila Chã", que nesta sua terceira temporada a sério terá, com certeza, muitas oportunidades, de forma a tornar-se não uma esperança, que é, mas sim um forte certeza.

Aos 20 ou 22 anos, que é a idade do "Vila Chã" e de mais algumas esperanças, já não se podem ter dúvidas interiores se queremos ou não ser forcados. Se não queremos passamos somente a ser amigos mas se queremos devemos querer a sério, o que implica ter personalidade forte, muita disponibilidade e muita vontade. Ser do GFAS é ser de uma selecção, é ser do mais antigo e prestigiado Grupo de Forcados Amadores do mundo, e por isso se queremos ser forcados aqui, então é para querer a sério.

Penso que ontem o Francisco mostrou que quer ser e esteve muito bem, em especial a receber e a agarrar-se. Talvez tenha estado demasiado tempo à frente do toiro antes de o carregar, mas ontem a sua calma foi boa conselheira e diante de um toiro complicado (eu não gostava de ter de lá ir duas vezes!) conseguiu concretizar uma boa e limpa pega à primeira.

Depois de acabada a corrida jantámos no Vargas como manda a tradição. Foi um jantar emotivo, muita gente nova a discursar pela primeira vez, e a despedida do Zé Real, sobre a qual não vou escrever pois penso que algum elemento mais velho o irá fazer. Apenas gostava de dizer que foi um orgulho ser forcado ao lado do Zé Maria e um privilégio ter sido ajudado por ele.

Resta referir que a fardamenta foi em casa do eterno JP e da Claúdia (que vista tem a vossa casa!). Como é claro não preciso de falar na forma como fomos recebidos pois do casal JP só se esperam 5 estrelas!

É o GFAS rumo ao centenário! (sem interregnos, passando a jaqueta de geração em geração, de pais para filhos e de filhos para netos)

Diogo Palha

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