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As Estações do ano

- “Tou?”

- “Megre, onde estás?” – perguntávamos da bancada. Foi o começo do primeiro telefonema atendido por um forcado no meio de uma praça de toiros. Do outro lado a habitual risada, espécie de código com que o Nuno responde às judiarias que cimentam uma grande amizade.

- “Ò Peu, quem achas que pega hoje?”

- “Não sei, Carlos, talvez o Pedro não queira repetir malta. Era uma boa corrida para lançar putos novos. Está ali o Murteira, que dizem que é como o tio, e o Gomes Pereira que também é desembaraçado. Uma pega boa numa corrida importante passa um gajo para o grupo especial, sem passar pelas esperanças.”

- “O Zé Manel fez isso ao Francisco Sepúlveda num Concurso em Évora, lembras-te?”

- “Cala-te!! – diz o Manel Caleixo – Tens o Xico Murteira e a Teresa aí mesmo ao lado e ainda levas porrada.”

Calei-me eu, e toda a praça, como uma forma de citar que não se aprende, um diálogo a preceder a chegada do forcado aos terrenos de um toiro surpreendido com tanto descaramento. Que bonito foi ver um toiro humilhado pelo desespero de não encontrar o inimigo no local previsto para o duelo e atravessar toda a Celestino “da” Graça com o Manel Murteira e depois também com um impecável Pedro Cabral.

- “Que bem que recuou, e que importante que isso é quando o toiro vem assim forte.”

- “Hoje recua-se pouco ou recua-se menos. Evitava-se muita cacetada, e repara que as tentativas frustradas são quase sempre na reunião.”

O António Ribeiro Telles – que difícil voltar a encontrar um cavalo de confiança depois de se ter o Gabarito – tinha esperado pela investida linda deste toiro à porta gaiola. A maioria destes “jandillas” durou pouco e acobardaram-se com o decorrer da lide. Um chegou mesmo a “espantar-se” com a presença de um forcado do Grupo de Alcochete.

Quem não se acobardou foi o António Gomes Pereira, ribatejano dos quatro costados, com a responsabilidade de pegar o último toiro perante a sua gente. Decidido, mais atlético na forma de reunir, não deu hipóteses ao toiro nem à Isabel Ramos, a quem deu um beijo na mão, numa cena em tons rosa chocking, a fazer lembrar morangos com açúcar. A aficion da Comenda, e a energia de corredor de automóveis promete.

Por esse estilo, o mesmo da cavaleira que protege, é também penalizado o Rui Fernandes, o que por vezes se torna injusto pelo nível que apresenta em praça.

Pedro Seabra decidiu terminar a sua carreira. Fê-lo com a discrição e eficiência que a pautaram, sem complicar um toiro fácil. As coisas estão para mudar, sentiu-se naquele brinde que fez à sua namorada, que o recebeu com um sorriso de quem sabe que é a última vez. A Sónia, essa, levou um beijo na cara. Mas merecia, tantas vezes se queixou de falhar um ferro, sempre como se isso nunca tivesse acontecido.

Obrigado, Pedro!

Um tarde em grande que tinha começado com o Diogo, a escolha certa para serenar depois de uma corrida dura. A eficiência habitual: dois derrotes lá no alto a permitirem ajeitar os bracinhos, e tínhamos Diogo para uma volta à praça. “Infelizmente”, o grupo ajudou bem.

No fim da corrida, a alegria de todos tinha tons de Primavera.

Joaquim Pedro Torres

09/06/2007

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