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O gesto mais bonito da noite mais triste

Santarém 9 de Junho de 2007 – 22 horas

CNEMA

Joaquim Bastinhas

João Salgueiro

Victor Ribeiro

Forcados Amadores de Santarém

Forcados Amadores do Aposento da Chamusca

Toiros da ganadaria de António José da Veiga Teixeira

Joaquim Bastinhas: o cavaleiro de Elvas teria tido uma noite mais tranquila se a bravura do seu primeiro não o tivesse obrigado a concentrar-se e a deitar mão da sua experiência para ultrapassar com êxito as dificuldades que um toiro bravo sempre traz. Sem arriscar demasiado, acabou por manter os seus créditos com desenvoltura. A lide do seu segundo foi mais sonsa, terminando no entanto com um ferro de palmo, uma rosa, de excelente factura. De realçar a longevidade e a facilidade com que engancha o público.

João Salgueiro: teve duas excelentes actuações com pormenores deliciosos, a provar que esta temporada está a ser uma das melhores dos últimos anos. Transmite ao público o sentimento com que toureia e isso, é quase tudo o que um artista necessita para triunfar. Facilmente deixa transparecer uma intuição nata e empresta às sortes que executa, um temple que no toureio a cavalo é raro e, por isso, o faz diferente dos outros toureiros. Que bem faz à nossa tauromaquia um João Salgueiro nesta forma! Que siga igual por muitos e bons anos.

Victor Ribeiro: começou com impacto a faena ao seu primeiro numa magnífica sorte de gaiola. Continuou arrebatador até ao terceiro curto onde sofreu um toque violento na montada, para logo de seguida falhar a colocação de uma bandarilha. Sentiu um pouco estas contrariedades que, no entanto, suplantou com raça acabando num plano médio o que podemos classificar uma faena de mais a menos. No seu segundo a música foi outra. Extraordinária a forma como, de início, se dobrou com o toiro. Não sei qual foi melhor se o segundo ou o terceiro curto, soberbos! Após o terceiro, recreou-se na sorte com gosto e torería. Faena consistente, enraçada na qual se tornou patente que as coisas não lhe saem bem por acaso, rematada com um ferro que por si só, define a primeiríssima figura que é. Absolutamente fantástico.

Toiros: lidaram-se 6 toiros de António José da Veiga Teixeira de diferente apresentação, e no seu conjunto, bravos e com mobilidade. Os três primeiros pequenos e terciados, os três últimos mais pesados. 1º, negro acapachado, alegre e bravo. 2º, negro, tocado de pitons, enraçado e transmitindo muito nas investidas. 3º, castanho-escuro chorreado bragado, gacho (cabano), começa com mau estilo no capote mas humilhando muito, melhora e termina com nota positiva, 4º, negro playero, basto de morfologia, por vezes tapa-se no momento do ferro, mas cumpre. 5º, negro, bem posto, cornidelantero, o mais bonito da corrida, sai com muitos pés e toma a iniciativa nos cites frontais, Sério, vem um pouco a menos. 6º, negro, alto, chato e ancho de sienes (testuz largo e achatado), colaborador e nobre na investida.

Forcados Amadores de Santarém

Joaquim Pedro Torres pegou com exemplar eficiência e espectacularmente o primeiro. Forcado low-profile com um percurso algo atípico, parece estar num momento de transição, em crescendo, denotando para quem observa menos dúvidas ou, se preferirem, mais certezas na cara do toiro. O seu grande mérito foi o de cumprir as regras eternas da arte de pegar toiros; citou sem pressas, equilibrado, aguentou sem sobressaltos, recuou e embarbelou-se de forma clássica. Teve moral na cara do toiro. Que belo remate de semana deste forcado que, já no primeiro Domingo da Feira, tinha simplificado e templado o que outras estrelas tinham complicado e acelerado.

Francisco Barata realizou uma pega muito vistosa e, por isso, está de parabéns. Aguentou bem a investida forte do toiro não se descompondo minimamente e fechou-se rijamente de pernas e braços. Único senão, se é que uma conclusão tão brilhante pode ter senão, foi o de ter recuado pouco. Desta vez correu bem, mas cuidado… A pega sem mando, perde a sua essência e torna-se apenas numa sorte musculada, onde há um que tem muito mais músculos que o outro.

Francisco Sepúlveda meu querido amigo que tiveste a simpatia de me brindar a pega; acredita que ainda não digeri o mau sabor de boca que me deixou a tua azarada colhida; fiquei e estou incomodado. Sabes Francisco, os toiros dão que pensar e por vezes suscitam reacções pouco abonatórias em relação a eles, ainda por cima quando comprometem um futuro imediato de um tão estupendo atleta como tu. Dá raiva, revolta, não se compreende, tudo o que se possa imaginar. No entanto, devemos apelar ao nosso sangue frio e parar para pensar. A vida também é bela porque imprevista; esta tua colhida, não é uma simples colhida de um forcado. É uma cornada da vida, que a tua vida te deu! Tirarás as ilações próprias. Nunca tive o privilégio de privar muito contigo, mas conheço a tua reata. Deves saber que a vida é uma imensa faena. Lembro-te a famosa frase de um grande toureiro “el mundo entero es una enorme plaza de toros onde aquele que no torea embiste y eso es todo”. Por saber a fibra de que és feito, sei que serás sempre daqueles que sabem lidar as dificuldades da vida.

O Forcado é uma instituição portuguesa; mais do que isso, é uma atitude e uma forma de estar. Provavelmente és um jogador de rugby tão brilhante porque jogas como se estivesses a pegar, não sei, talvez. Mesmo que não pegues mais nenhum toiro na tua vida, serás sempre forcado. Toureiro e Forcado nunca se deixa de ser. Não quero entrar em questões de que não deves voltar a pegar, que sim, que não, bla, bla, bla. Esse é um tema que tu decidirás, que a tua sensibilidade ditará, mas não quero deixar de frisar-te que não precisas de pegar toiros para seres um dos nossos grandes forcados. Sempre te adianto que já deixei de pegar há tantos anos e parece que o toiro da vida não pára de crescer e de me atazanar o juízo. São pegas todos os dias…

Francisco, há detalhes que definem. Um forcado levantar-se ao pé-coxinho como tu o fizeste, meu Deus! Nesse momento, nesse segundo, disseste-nos que o teu mundo não tem limites, deixaste escapar a tua raça e fizeste de um modo tão singelo o gesto mais bonito da noite mais triste da Feira de Santarém.

Em breve dar-te-ei um abraço. Força.

Diogo Sepúlveda foi emendar o primo e fê-lo com categoria e eficácia. Tal como nos toiros existem aqueles que pela sua morfologia dizemos que são reunidos, também o Diogo Sepúlveda é um forcado reunido. Tem tudo para dar certo. É dos tais forcados que pela sua forma de andar para os toiros, nos dá a sensação de que vai mesmo resolver o problema. È uma questão de querer. Deu gosto ver a sua vontade e conhecimento naquele momento. A emenda clássica sem querer tirar proveito para si quando o colega está ferido, é também parte da definição do que é o Grupo de Santarém.

Forcados Amadores do Aposento da Chamusca

Vasco Coelho dos Reis na primeira tentativa não foi capaz de esconder a sua veterania, reunindo sem confiança. À segunda resolveu bem, paradoxalmente, pela sua experiência. Enorme forcado, com um par de braços como poucos, tem que cuidar o seu magnífico passado e evitar grandes complicações.

Pedro Coelho dos Reis esteve muitíssimo bem a citar, fez tudo bem feito antes da reunião mas não se enrolou na mesma. Apesar da moral que demonstrou na viagem, o facto de as pernas não estarem fechadas traiu-o. À segunda esteve impecável e resolveu bem. O Pipas tem raça para distribuir pelo seu grupo inteiro o que, aliás, faz com grande brilho. Está maduro e é conhecedor, indispensável à mística do Aposento da Chamusca, um Grupo com valores muito sólidos e positivos.

Bruno Lucas pareceu-me demasiado tranquilo a citar, talvez desconcentrado; o toiro surpreendeu-o numa arrancada que ele não esperava o que não é aconselhável numa pega. Acabou por pegar ao terceiro intento com ajudas carregadas. Teve o mérito de não virar a cara à luta.

Joaquim Grave

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