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O filho à casa torna

  Cartaxo, 23 de Junho de 2007 – 22 horas


João Salgueiro
Vítor Ribeiro
Francisco Palha
Tomás Pinto
Forcados Amadores de Santarém
Toiros da ganadaria de Pinto Barreiros

Caros amigos,

A emigração tem destas coisas. Há um ano que não ia aos toiros. E há já dois que não via o nosso Grupo ao vivo e a cores. Fui matando as saudades com umas corridas na RTP Memória a altas horas da madrugada, umas leituras nos sites e com os relatos que alguns amigos, actuais e antigos forcados, me iam fazendo do que se ia passando. Mas não sabe à mesma coisa, acreditem.

Tinha saudades, é verdade. Tantas como as que tenho do tempo que já lá vai. Saudades daqueles com quem privei, com quem aprendi, ao lado de quem peguei e que a distância e o tempo afastaram do meu convívio. Agradeço a todos a amizade e o companheirismo.

Desses, há um que o tempo parece melhorar. Um forcado discreto, tenaz e dedicado ao Grupo como poucos. Falo do João Pedro Seixas Luís. Aquele que dizem ser de borracha mas em quem reconheço uma vontade de ferro. Um senhor forcado.
O JP já pegava antes de eu me ter fardado pela primeira vez e continuou a fazê-lo num crescendo que espanta mesmo aqueles que o conhecem bem. Na corrida do Cartaxo, deu mostras desse saber.

Os mais afeitos à forma que ao conteúdo podem até dizer que o JP não extravasa a mestria que já tem. Que é contido, sereno em demasia. A esses direi que foram essas mesmas qualidades que o guindaram ao sítio onde se encontra. Para quê mudar?

Antes da corrida, por graça, disse-lhe "vê lá se hoje deixas os rapazes pegar!". E ele abriu praça. Quem é que me mandou armar-me em engraçadinho?

Seguiu-se-lhe o Peu que, se não tem tanta experiência, tem saber e vontade de sobra. E está naquela fase em que pegar deixa de ser valentia pura para ser uma actividade mais pensada. De olhos abertos. Por isso, sei que não ficou satisfeito com a sua pega, sobretudo com a primeira tentativa. Mas tem ainda muitos toiros para pegar e, tenho a certeza, alcançará o patamar que ambiciona. A insatisfação com as nossas falhas é não só natural como claro sinal de inteligência.

Do António Gomes Pereira sabia pouco. Ainda não o tinha visto pegar. E gostei muito do que vi. A vontade está lá e, se é permitido a um ex-ajuda falar do tema, o sentido dos terrenos também. Não complicou o toiro que lhe calhou em sorte e foi excelentemente secundado por um certo ex-gordo que dá gosto ver ajudar!

O António Grave de Jesus ganhou bem o prémio para a melhor pega. E podia ficar por aqui o meu comentário. Já teria dito quase tudo. "Uma boa pega, a provocar bem a investida do toiro e suportando uma veloz viagem" diz a Tauromania. Não queria, no entanto, deixar de referir que, para além de o António ter feito tudo (muito) bem feito, como ele sabe, teve uma grande ajuda do Miguel Navalhinhas que está numa forma e com um sítio impressionante.

A pega do quinto da tarde teve direito a um brinde que me comoveu. Ao céu. De Luís para Luís. De filho para pai. Sem alardes nem espaventos. Um gesto rápido mas que disse tudo.

 Comoveu-me, também, porque recordo o quanto muitos da minha geração devem à amizade do Tio Luís Sepúlveda e ao seu amor pelo Grupo de Santarém.
A primeira vez que vi o Luisinho pegar foi já há muito tempo. Num corredor de uma casa em S. Martinho do Porto. Em vez do barrete verde usava um gorro azul. E um fiel labrador preto, o Black, era o oponente da altura! Teria talvez cinco anos. Ou menos. A vontade ficou. A que não deve ser indiferente os exemplos do Nuno e do Vasco.

 No dia 23 de Junho, a família Sepúlveda deu mais um pegador de caras ao Grupo de Santarém. Fiquei muito contente. E acredito que o Tio Luís também. Sendo a primeira pega, entende-se que tenha havido mais vontade que discernimento e até a ajuda da Providência no momento de recuar. Espero que a tua vontade não esmoreça, que o teu discernimento se fortaleça e que a Providência te acompanhe sempre!

Para a última pega da noite estava reservado o momento mais emocionante. Depois de uma justíssima homenagem a quem liderou o grupo com exemplo e arte durante seis anos, o nosso antigo Cabo Gonçalo da Cunha Ferreira, o Ricardo Tavares e o David Romão protagonizaram uma cernelha plena de decisão e querer num toiro que demorou a encabrestar, empolgando uma assistência já assolada pelo frio que então se fazia sentir. Ribamar e Larga-Pêlo pode parecer o nome de um grupo de música brasileira mas é, na realidade, uma grande dupla de forcados!

Ao jantar, reconheci no Lopo2 de Carvalho a vontade de estar à altura do caminho trilhado pelos seus antecessores e o seu sentido da responsabilidade. No Pedro Soares, o desejo de deixar a especialização e passar à polivalência. No Francisco Barata, o gostode crescer como forcado e a alegria de acolher o nosso Grupo em sua casa . No António Gomes Pereira, a raça de quem quer passar a fazer parte da "equipa principal". No Luís Sepúlveda, a mesma vontade dos irmãos. E no "velho" JP, sempre novo, a alegria serena de sempre.

A minha última palavra é para o nosso Cabo Pedro Graciosa. Para lhe agradecer o convite para o jantar e, sobretudo, para lhe testemunhar uma vez mais a minha amizade e o respeito pelo Grupo de Forcados que vem formando.
No meu tempo, o Pedro era sempre dos primeiros a acolher os novatos. Era daqueles que desafiavam os mais tímidos a andarem para a frente e que se preocupava com eles. Não mudou nada. Graças a Deus.

Perguntam-me se "estou com medo"? Tenho algum. Pelos que hoje vestem as nossas jaquetas. Mas confio que elas estão muito bem entregues. Já agora, quem é que tem a número 11? Cuidado que dá sono! Eu sei do que estou a falar.

Um abraço muito amigo do
João Vacas

P.S.: Francisco, da próxima vez Lorga o David Romão. Mas não te preocupes muito que isso acontece a todos. Tenho esperança que ainda vamos ver o "Império Contra-Ataca"!

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