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"Toiros difíceis de pegar" (crónica atrasada do Campo Pequeno)

 

Em primeiro lugar quero pedir desculpa pelo atraso na apresentação da “crónica”.

Foi com enorme gosto que aceitei o convite para escrever algumas palavras sobre a corrida do 30º Aniversário da Alternativa do Cavaleiro João Moura que se fez acompanhar brilhantemente dentro de praça pelos seus 2 filhos e sobrinho e na cara dos toiros o Grupo de Santarém e o Grupo de Portalegre.

Começo por dizer que nesta corrida foi um grande privilégio para mim poder assistir ao espectáculo partilhando a visão do Grupo… lá de baixo. Foi algo que nunca me tinha acontecido, pelo menos desfardado. E apesar da partilha e da sensação orgulhosa de me sentir parte do GFAS não creio que os sentimentos tenham sido rigorosamente iguais aos dos forcados escolhidos pelo Pedro. Quem veste a jaqueta tem sempre aquela vontade de tentar a sorte e aquele “nervosismo” a mais do que os que são meros espectadores.

Desculpa-me Peu, adorei o teu convite, mas não vou fazer destas palavras uma “crónica da corrida”, não sou cronista. Vou recordar e partilhar sentimentos e questões da altura em que estava mais vezes com o GFAS e “tentar” analisar a pega do Gonçalo Veloso àquele toiro difícil que o Grupo teve que enfrentar.

O terceiro da noite foi difícil para todos, e quando saem assim chego a perguntar-me: -“será que este Toiro também foi difícil de escolher no campo? Será que até o ganadeiro teve dificuldade em elegê-lo?”  - perguntas que talvez nos venham a ser respondidas por alguém que lide com os toiros no campo.

Logo nos compridos revelou comportamentos de manso, com “arrancadas, que tinham que ser… arrancadas a ferros”, o cavaleiro teve que se aplicar para conseguir que o toiro, nem que fosse apenas por breves momentos passasse da defesa à investida. Era então que ele recebia as bandarilhas e imediatamente se refugiava em tábuas.

Toiros difíceis de pegar há de vários tipos, há os que investem com a cara alta, ou adiantam um piton dificultando a reunião – estes são assustadores - são toiros que normalmente magoam, são os que mais medo geram a quem se lhes mete por diante, são aqueles que provocam aquilo que parece mais óbvio no confronto entre forcados e toiros, que é literalmente levar uma cornada, ou melhor dizendo na corrida à portuguesa levar uma bolada. Mas pegar toiros é uma arte tão corajosa e subtil, tão bruta e delicada que chega a ser um contra senso. É um homem a liderar outros sete, sem cavalo, sem capote, sem muleta, sem bandarilhas, o grupo obrigar um toiro parar fisicamente entre os oito, um toiro que está armado de cornos mortíferos que usa para guerrear com os seus semelhantes, que nas lutas no campo os usa para furar os seus inimigos… e dizem-me que os forcados têm que parar este animal sem levar uma cornada,… isto sim é arte,… e valentia.

Há também toiros que quando sentem o grupo a fechar baixam a cara e recuam tirando de si os forcados. Estes são ingratos.

E há, outros toiros difíceis de pegar, mas este,… este era dos que não se arrancava! Era manso! E ao recordar este não deixo de me questionar: Será que um toiro assim, foge? Será que abrindo a porta dos curros este toiro renuncia enfrentar cavalo e cavaleiro? e assim que notar uma saída vira as costas? Não sei! Mas reparei que nem para o capote se arrancava, e esse, é dos piores sinais para o forcado. O toiro manso para mim não é odiável,… já lhes ouvi chamar de “coirões”, de “macacos” ou de “cabrões” mas para mim o toiro, independentemente da sua bravura será sempre o animal mais sério de todos e o que mais respeito impõem. O manso não é o nobre toiro, mas continua a ser o mais sério animal de todos. O manso só necessita de uma maior provocação para passar à investida, e este como tal, só se arrancou depois de avisado e de se sentir apertado. Foi este o toiro difícil desta noite, que não arrancava quando o forcado o chamava, nem sequer veio quando ele carregou a sorte, e tão pouco o fez quando lhe pisaram os seus terrenos. Este foi um toiro difícil, mas são os difíceis que dão as melhores pegas. Esta não foi no entanto a melhor pega,… porque o aviso não saiu no momento certo, e porque o recuar não se “templou” com a arrancada, e porque este,… era um toiro difícil de pegar,…

Mas continuo a crer que são estes os que dão as melhores pegas, e tanto assim é, que quando o animal finalmente resolveu investir,… fê-lo com tudo, como se de repente a sua vida estivesse em jogo, a sua bravura latente transformou-se em força bruta e ele arranca para ferir. A boa reunião do Gonçalo proporcionou uma boa pega e uma primeira ajuda do Navalhas daquelas que valem que ficam para sempre,.. fotografadas na memória… o Grupo esteve irrepreensível a fechar.

Toiros difíceis de pegar, a todos os Grupos lhes saem em sorte… mas saber pegá-los não é sorte!

Que o nosso novo Cabo Diogo e o Grupo de Santarém tenham muitas noites de glória e que continuem a pegar todos os toiros que lhes saírem pela frente.

Um grande abraço a todos e um beijinho à nossa Madrinha.

"Pelo Grupo de Santarém, venha vinho”

 

Francisco Sepúlveda Castanheira

(Paquito) 

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