Começo por pedir desculpa pelo atraso na crónica embora o mesmo seja absolutamente indisculpável! Tenho a certeza que a data de 2 de Agosto de 2008 vai ficar marcada na memória do nosso Cabo Diogo pois foi um dia de enorme stress e ansiedade, com 9 toiros para pegar em duas terras que distam 440 Kms uma da outra e com o Grupo algo desfalcado devido às muitas lesões que infelizmente nos assolaram nos últimos tempos. Felizmente será também um data a recordar pois o Grupo somou duas belas corridas com toda a gente a corresponder com elevada dedicação dos mais veteranos e muita vontade da gente nova. Porque a convivência no Grupo é extraordinária e também porque as saudades apertam imenso pedi ao nosso Cabo para fazer a digressão Abiúl-Tavira com o Grupo e foi-me dada a missão de fazer de chofer do Cabo nesta maratona. Assim a minha corrida de Tavira começou em São Martinho às 10h00 da manhã de onde rumámos (Diogo Sepúlveda, António Jesus e eu) ao sorteio em Abíul. De Abiúl saímos ao intervalo, após a pega do 3º toiro da tarde, tendo levado além do Cabo os jovens forcados Império e Menezes que tinham de dar o litro em Tavira. Do momento da saída de Abiúl vai-me ficar na recordação o recado do Diogo para o Jesus: "Agarra-te a ele". Ficava assim dado, logo ao intervalo, o último toiro da tarde de Abiúl. Imagino que tenham sido uns largos minutos de ansiedade do nosso enorme "Estraga Médias". Não vou dizer a que horas saímos de Abiúl pois senão a Brigada de Trânsito pode vir multar-me mas chegámos a Tavira às 22h00 em ponto, ainda a tempo do nosso Cabo fazer as cortesias! Um olé ao carro da noiva Eva que teve de dar o litro! Em Tavira, para pegar 6 Vila Galé, o Grupo apresentava uma formação muito jovem com muitos forcados na sua primeira e segunda fardamenta e, ainda por cima, com muito poucos reforços mais velhos. Noite de muita responsabilidade para toda a rapaziada nova. O primeiro da noite foi pegado por Manuel Roque Lopes, à primeira tentativa, sabendo fazer as coisas e muito bem ajudado por todo o Grupo, em especial pelo Xiquinho do Império, que estava bem descansado depois de nada ter feito em Abiúl e depois de ter vindo toda a viagem até Tavira a dormir, fazendo a companhia que lhe é habitual. No segundo da noite foi para a cara Luís Sepúlveda, perante o olhar nervoso e babado do mano Vasco que nem conseguiu filmar a pega. Esteve toureiro e aproveitou para fazer uma pega bonita e novamente bem ajudada por todo o Grupo. Gosto de ver o Luisinho a pegar e gosto da atitude dele na trincheira e nos jantares, sem cantar de galo nem fazer alardes de uma valentia por comprovar (do género de pedir ao Cabo os toiros grandes e maus como vejo alguns fazerem) mas aproveitando todas as oportunidades para crescer estando concentrado e com gosto no que faz. No terceiro tivemos a primeira estreia da noite, por intermédio do loirinho Bruno "da Chamusca" que embora estivesse visivelmente nervoso com a responsabilidade que lhe foi atribuida, soube passar por cima disso e dentro de praça esteve vistoso e correcto diante do seu toiro tendo realizado uma pega muito divertida quer para o público quer para os ajudas que tiveram de se aplicar perante a velocidade do Vila Galé que, sem derrotar, veio de cabeça alta e a meter mudanças. Fechou-se assim uma primeira parte de luxo, com toiros pequenos e colaborantes que se empregaram nas pegas embora sem colocarem dificuldades. Não se previa por isso o que veio a suceder na segunda parte... O quarto toiro foi um manso de campeonato! Joaquim Bastinhas passou por ele mais de 100 vezes, qual boi manso usado nos treinos, sem que o toiro investisse uma única vez. Felizmente o toiro ficou no meio da praça e investia para os bandarilheiros o que permitiu a cravagem dos ferros por parte do toureiro de Elvas. Estava ali um petisco e perante a juventude fardada o Diogo teve de apostar e apostou no Luís Faria, um forcado que já vem a fardar-se há duas épocas embora sem pegar de caras. O Luís esteve visivelmente aflito e, em parte pela falta de experiência, noutra parte pela referida aflição, não conseguiu fazer nada daquilo que um toiro destes precisava para ser pegado e por isso só à quarta tentativa conseguiu fechar a pega. Diante deste tipo de problemas o ideal é ter cabeça fria e coração quente! Perante a encomenda que ali estava não é tempo de fazer grandes avaliações ou apreciações mas este toiro foi uma enorme lição para toda a gente nova. Quando nos treinos se treina a pega ao sopé ou se fazem aquelas pegas a abrir as vacas sem que as mesmas levem capotazos para abrandarem existem razões para isso e a principal não é testar a valentia dos forcados mas sim prepará-los para o tipo de problemas, felizmente raros, que este toiro apresentou e que às vezes surgem. Pegado o malvado quarto pensou-se que a coisa voltaria à primeira parte até porque dizem que "no hay quinto malo". Mas também dizem que não há regra sem excepção e a verdade é que o quinto de Tavira foi dos toiros mais mansos que vi na vida! Livre-nos Nosso Senhor daquele animal com mais um ano e mais Cem Kilos. Vítor Ribeiro, em grande esforço, cravou-lhe 3 ferros e teve de retirar-se pois o toiro nunca se desencostou das tábuas e nunca investiu nem para o cavaleiro nem para os bandarilheiros pese embora os esforços tenham sido mais que muitos. Diante deste malerço e sem opções experientes, a não ser ele próprio, o Diogo escolheu o jovem João Brito "Pauleta" para pegar o toiro, acreditando firmemente nas boas indicações reveladas nos treinos e em Marco de Canavezes. Foi uma decisão arriscada e difícil pois o toiro mostrou, sem sombra de dúvida, que era um coiro acabado. Atrás do "Pauleta" formou-se o Grupo mais sólido que estava fardado com a presença do Nelson Ramalho, Miguel Navalhinhas, Filipe Almeida, David Dias da Silva e Lopo Lopo de Carvalho. Foi impressionante a calma do nosso açoreano que caminhou firme para o toiro até ficar a cerca de um metro (não estou a exagerar) da cara do mesmo, citando com firmeza, enquanto o Diogo Sepúlveda tentava que toiro respondesse às palmadas que lhe dava enquanto o Pauleta carregava. Sem opção o toiro investiu e fê-lo, como podem imaginar, para desfazer quem lhe estava pela frente. Aqui entrou a qualidade, valentia, raça, garra e capacidade do Nelsón que, recebendo com o Pauleta, se cravou no toiro para dar uma primeira ajuda à qual todos os adjectivos pecam por escassos. O "Preto" nunca falha e parece que diante destes problemas ainda se torna melhor! Espectacular! Perante tal demonstração de calma valente do Pauleta e de capacidade do Nelsón respondeu o resto do Grupo com uma extraordinária coesão quer dos segundas quer dos terceiras que fecharam a pega à primeira tentativa e com a praça de pé a aplaudir. Relembro que o toiro nunca tinha investido, estando por isso completamente inteiro e na plenitude das suas forças tendo por isso dificultado muito a vida de todos os ajudas que, no entanto, nunca deixaram que o Pauleta estremecesse um milimetro na cara do toiro. Volta em apotesose e mais que merecida para o Pauleta e para o Nelsón! Felizmente o sexto saíu aos seus irmãos da primeira parte e voltou a permitir alguma descontracção. Pegou o Pedro "da Chamusca", mais uma estreia, que embora não tenha estado tecnicamente bem na reunião esteve tranquilo e com gosto no que estava a fazer tendo realizado a sua pega à primeira tentativa, novamente com o Grupo a ajudar bem. As últimas palavras desta crónica vão para o Professor Ortega, pai do meu amigo Gonçalo, e Professor em Agronomia, tendo sido Mestre de muitos forcados de várias gerações, desde o antigo cabo Carlos Grave ao seu sobrinho António Jesus, passando pelo nosso actual cabo Diogo Sepúlveda. Foi na casa do Professor Ortega que fomos recebidos para fardar e desfardar, num clima de enorme amizade e com o à vontade dos amigos de todos os dias. Depois de aí termos tomado um belo banho (até eu que embora de fora me fartei de suar no quarto e no quinto da noite) e de termos acabado com as muitas médias que estavam à disposição, fomos jantar num castiço restaurante que o Professor nos arranjou. O jantar decorreu com enorme alegria tendo terminado às 09h00 de Domingo com os cortes de cabelo já apresentados no site. De referir que os donos do Restaurante foram de uma simpatia e disponibilidade inigualáveis de tal forma que a partir das sete puseram as mesas na rua e continuavam, de sorriso na cara, a servir minis e gambas! Para que a recepção fosse ainda mais extraordinária, se é que tal era possível, o Professor Ortega ofereceu o jantar!!! Todas as palavras são poucas para agradecer esta noite em Tavira! De tal forma que em agradecimento o António Jesus vai inscrever-se novamente na cadeira para melhorar o brilhante 12 que obteve! |