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Os ?Galácticos? de Celorico (Festival do Ajuda) ? Carta Aberta

                                                                                                                                                                                                                                       Lisboa, 12 de Agosto de 2009

Exmo. Sr. aficionado e/ou seguidor do GFAS,

Imagine o seguinte cenário: a) corrida na Nazaré no sábado; b) 4 horas dormidas no chão na Residencial Concha; c) 32 graus em S. Martinho; d) bandeira verde nos Salgados; e) trabalho segunda-feira de manhã…  Fazia algum sentido meter-se num Citroen Saxo (a gasolina, e sem ar condicionado) em direcção a Celorico da Beira (3 horas…), para uma corrida numa praça desmontável? Se a sua resposta é “Não”, é perfeitamente compreensível. No entanto, é importante que saiba que pode ter perdido uma das corridas mais importantes dos últimos anos do Grupo de Santarém.

Confuso? Eu explico, ou pelo vou tentar:

Depois de uma corrida com altos e baixos na véspera (http://grupodesantarem.com/noticias_detail.php?aID=1477) o Grupo estava contratado para pegar 6 toiros da afamada Ganaderia Cunhal Patrício, que seriam toureados pela Sónia Matias, Manuel Telles Bastos e um tal Gonçalo Fernandes.

A corrida era em homenagem a esse grande símbolo do Grupo chamado Alexandre Lourenço Marques (Trepa), grande forcado dos tempos do Sr. Ricardo Rhodes Sérgio, figura transversalmente conhecida do Norte aficionado.

(Aliás, perdidos em Celorico, bastou-nos perguntar a uma senhora onde era a casa do “Sr. Trepa”, que chegámos lá num instante – é o Rei de Celorico!!!)

Já em casa do Sr. Lourenço Marques, o Diogo disse a lista, que muito surpreendeu os mais atentos, porque – para além do Cabo – fardaram-se muito poucos forcados acostumados a pegar de caras.


O curro de Cunhal Patrício (com 3/4 anos e sobre os 450 kg de média) saiu bravo na generalidade, tendo sido bem lidado pelos cavaleiros. Pelos peões de brega, há que dizê-lo, nem por isso - muitos eram “verdes” e pouco despachados, o que não facilitou em nada a função do Grupo.

O primeiro toiro foi dado pelo Diogo ao Miguel Navalhinhas. Verdade seja dita, apesar do Miguel estar no topo do escalafón dos primeiros ajudas há mais de 10 anos, não é propriamente um estranho nestas andanças, uma vez que já tinha pegado dois toiros de caras (Portalegre e Entradas).

Brindou ao homenageado Alexandre Lourenço Marques, e perfilou-se para pegar. Mais de meia praça a citar, com a serenidade que lhe é característica, e mandou vir o toiro quando quis. O toiro veio franco, e depois de uma boa reunião, teve uma viagem desconfortável e com derrotes, que o Almeida e restante Grupo ajudaram a abafar.

 


  

 

Pega limpa à 1ª tentativa!!
 Por esta altura, o voz-off já dava espectáculo no microfone. E foi ele que deu o mote a este texto: “Público de Celorico, eu que sou aficionado, posso garantir-vos que os forcados de Santarém são uns autênticos galácticos da tauromaquia!!”, frase que repetiu 750 vezes ao longo da corrida.


Passou a ser oficial: estava dado o mote para mais um sempre antecipado “festival do ajuda”, a corrida onde os forcados que habitualmente ajudam têm a oportunidade de colocar o barrete e bater as palmas a um toiro. E, nem de propósito, qualquer pessoa que acompanhe o Grupo sabe que os seus ajudas têm sido verdadeiros GALÁCTICOS ao longo dos anos – na omnipresença, na entrega, na eficácia e na discrição, são inexcedíveis e mais do que merecedores desta homenagem.

Começou uma estranha azáfama dentro da trincheira – “quem pega este?”, “este toiro tá bom”, “este toiro nem por isso”, “também quero pegar”, etc.
No meio da confusão, Pedro Féria pegou no barrete de ar decidido e pediu ao Diogo para pegar o 2º toiro da corrida, pedido que o Diogo acedeu, claro.

Depois de um brinde muito emocionado ao J.P. e à Cláudia Seixas Luís (que, imagine-se, tinham vindo de Santarém num instante…), o Féria começou a citar de forma toureira o Cunhal Patrício, que era colorau de pelagem.

 

Carregou o toiro decidido, e trancou-se como mandam os livros, mas uma reunião difícil e uma voltareta espectacular não lhe permitiram ficar à primeira.

 

Sacudiu o pó da jaqueta e perfilou-se de novo para pegar. Desta vez, não havia derrote que o tirasse de lá, fechou-se à córnea de forma tecnicamente perfeita e com o Navalhas (que tinha acabado de pegar) a ajudar muito bem, consumou-se brilhantemente a pega de estreia do Pedro Féria.

 

O 3º toiro era claramente “a trouxa” da corrida : apesar de ter sido bravo, era o maior do curro, cabano e tinha aquela cara típica de sobrero. De repente, começámos todos a olhar para o Nélson Ramalho, forcado habitual em alturas de aperto. Pequeno pormenor – nunca tinha pegado de caras! Mas, sempre a rir, o Nelson pegou ele próprio no barrete e ofereceu-se ao Diogo, que imediatamente lhe disse que sim.

Fez um brinde ao GFAS, muito aplaudido por todos. E a pega foi seríssima, do princípio ao fim – no cite, no carregar, na reunião e na viagem (a “despachar” ajudas pelo caminho) e na concretização. Mais uma pega limpa à 1ª, com um à-vontade e técnica impressionantes! Ai Nelson… tas lixado

   


Ao intervalo, e sempre com a voz-off a bombear, tiveram lugar duas aplaudidas homenagens no centro da praça. Primeira, foi o Sr. Trepa, que apareceu vestido a rigor com a jaqueta do Grupo de Santarém!! O “Gasosa”, como também é conhecido nestas bandas, recebeu presentes da Câmara Municipal de Celorico e também do GFAS e quase que se emocionou.
Depois, uma surpresa (para alguns) – Calhandra chamado aos médios, como “filho de Celorico” para ser homenageado e presenteado. O Diogo tem raízes naquela terra, visto que o seu bisavô tinha lá uma casa.

  

 

Depois das homenagens, começou a perceber-se que seriam poucos toiros para tanta gente com vontade de pegar… Mas o Pedro Cabral não podia ficar de fora! Mal saiu o 4º toiro, antes do primeiro capotazo, lá estava o Peidinha a marcar terreno junto ao Cabo.. E foi de tal maneira que foi o próprio Peidinha a fazer o Grupo que o ia ajudar (uns são filhos e outros enteados).

Convém dizer que o Grupo escolhido para ajudar – tudo malta nova, Zé Goes, José Carrilho, Quintela - demonstrava bem a confiança que o Peidinha sentia. Já a forma como pegou, à 1ª de forma imaculada,… mostra uma intuição natural, e também que tem passado tardes e tardes a ver o DVD do seu tio Manel Murteira. "Como citou"! "Como carregou!" "Como mandou!" "Como templou!" "Como se fechou!" Olé Dufo, que pegues muitos mais!

 


Antes da corrida, não se pode dizer que o Rui Cabral fosse dos mais entusiastas com a ideia do festival do ajuda… Mas, pouco a pouco, foi-se mentalizando, e ter visto o seu primo Pedro Murteira Cabral a pegar com aquela limpeza, soube que não podia ficar de fora, e pediu o 5º toiro ao Diogo. Este nem hesitou, e estava na forja mais uma estreia!

O Rui "Cegonho" citou o toiro devagar, de forma muito calma. O toiro - talvez incomodado com a manifesta confiança do seu oponente - veio por si, num trote desconfiado. O Rui carregou o toiro com alegria, mas já muito perto de si, o que dificultou reunião, visto que o toiro fez um "estranho" nesse momento. Nada que incomode os bracinhos do Rui: aliás, só para mostrar o desprezo que sentia pelo Cunhal Patrício, decidiu pegá-lo só com um braço, como ilustram as fotografias em baixo. (Guardamos o braço esquerdo para a Arruda dos Vinhos?) Mais uma grande pega à 1ª tentativa, e mais uma estreia de sonho!

  

Para o fim ficou mais um belo toiro de Cunhal Patrício. Candidatos havia ainda muitos: Filipe Almeida, Lopo, David Silva, Sá Leão, Ricardo Tavares... Mas a idade ainda é um posto, e o Pedro Soares "Sombra" era o mais velho em funções. E já agora, talvez fosse aquele que mais queria pegar!

A descontracção e à-vontade do Sombra eram impressionantes e parecia que este era o 20º toiro da sua carreira. Brindou ao fabuloso voz-off da corrida, e fez tudo bem feito, do princípio ao fim. Citou sem pressas, carregou na altura certa, aguentou e recuou e depois reuniu de forma impressionante. Juro que vi o toiro encolher-se na reunião!! (bela 1ª ajuda de Ricardo Tavares) Espectacular momento e a melhor forma de encerrar uma grande tarde de pegas!

 

Quando o Pedro dava a volta, o Grupo foi chamado aos médios de forma apoteótica. A corrida foi um sucesso e toda a gente saiu contente e mais aficionada!

Por tudo isso, Exmo. Sr. aficionado e/ou seguidor do GFAS, compreenderá melhor porque é que considero que estes foram dos 600 km mais bem empregues da minha curta carreira. Quanto ao resto, repito algo que já foi dito neste site: 

"Quem esteve lá, nunca mais se vai esquecer.

Quem não esteve... tivesse ido!!" Olé!

 

Melhores cumprimentos,

Peu Torres

PS: Uma senhora, dirigindo-se ao Pedro Sombra no fim da corrida: "Vocês são todos valentes, mas tu... nunca pensei encontrar OURO NEGRO aqui!!"

PS2: Demonstração da arte da rabejação no seu máximo esplendor. Filipe Almeida, Jorginho, Zé Goes... um luxo. David, põe-te a pau!

PS3: Uma nota de censura para o J.P. Toda a gente sabe que não se pode trazer Senhoras acima do Rio Mondego. Proponho que fique de castigo até à Feira da Piedade.

 

(As fotografias - as de qualidade - são da autoria de João Costa Pereira, do site www.tauromania.pt)

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