Muito honrado pelo convite para mais uma crónica a uma corrida, cá estou caros cibernautas seguidores do GFAS, para vos dizer o que me vai na alma sobre a corrida da Arruda dos Vinhos, dia 17 de Agosto de 2009. Saí do trabalho já tarde, cheio de saudades de ver pegar o GFAS (a ultima tinha sido em Évora, há mais de um mês), cheio de saudades dos meus amigos, e cheio de sede. Passei em casa do Diogo Palha que lá estava a minha espera a banhar na piscina com o Roque Cunha Ferreira e o Miguel Mendes de Almeida, sem uma reles média para me oferecer. Como só ele, só tinha coca cola. A Gunga e a Eva também lá estavam, ficaram em casa, não “à antiga” mas somente pela impossibilidade logística de levar crianças com um mês para corridas de toiros. O meu filho berrou desalmadamente por ficar em casa, enganei-o com um bocado de Aero Om e prometi-lhe que vai ver o GFAS quando fizer 1 ano, por essa altura já saberá falar o suficiente para chamar ganda burnal ao Larga Pelo, e cantar a Marselhesa ao Peidinha a “entrar” na primeira voz com o Pai na segunda com os tons graves... Falando pela Gunga, tenho a certeza que penou por não vir, a qualidade natural e bom gosto dela, a minha determinação e a vossa ajuda fizeram dela tão forcada como nós. Adiante. Chegámos à Arruda e lá matamos a sede com uma imperial que soube a céu, à porta da praça já com a forcadagem fardada. A corrida era concurso de ganadarias, os toiros que nos calharam foram um Pinto Barreiro, um Eng. Jorge Carvalho e um Nuno Casquinha. Há tempos um forcado destacado de um grupo importante, afirmando desafiador e cheio de certezas que imitávamos o grupo dele a pegar à procura de uma boa discussão, pergunta me quantos passos dá um forcado do GFAS a recuar (?!)...perante o absurdo da pergunta respondi o possível: não sei...e perguntei lhe de seguida se havia um exel para registar os passos a recuar pega para pega no grupo dele, para depois aplicar média, moda, mediana e desvio padrão à amostra estatística e dai tirar conclusões... pedi lhe para depois me enviar as conclusões, claro, para poder fazer como a D. Helena e analisar... Sem ser o crítico mais indicado para descrever técnica e pormenorizadamente as pegas do João Torres, do Antonio Grave e do João “Pauleta” Brito , diria que foram as três à Grupo de Santarém, forcados mandões, a mandar por quererem perceber os toiros, e não por qualquer “cassete” ou “exel” que viram, a carregar de largo ou a entrar nos terrenos do toiro, a recuar mais num toiro, menos noutro. Com personalidade. Destaco alguns pormenores da corrida que me refrescaram a mística do Grupo de Santarém (o famoso fenómeno metafísico que só aparece esporádica e inexplicavelmente em Santarém e no Estádio da Luz...): A liderança serena do Cabo, conquistada quanto a mim que sou um tansozinho que não sabe nada, à sua sensibilidade e exigência. As equipas fazem se à imagem dos líderes, não me parecer ser obra do acaso a personalidade que a malta mais nova tem levado para dentro de praça. Se estiverem sempre assim fora de praça também se vão dar bem no resto da vida;
João Torres, jovem forcado a pegar a sério nem há dois anos, passando com classe e humildade o que para a maior parte dos forcados seria oportunidade para dar uma volta à praça. O cavaleiro esteve “por baixo” do toiro e não deu volta, a pega foi normal, o forcado com a dignidade de quem que não actua sozinho, nem deu hipótese ao público de pedir volta. Aqui contam os valores e não o aproveitar por momentos algumas palmas só para “cagar estilo”;
João Brito, outro jovem forcado com uma atitude semelhante indo ao meio da praça agradecer, numa grande pega merecedora de tudo, que para muitos era uma oportunidade para dar duas voltas à praça. Vais ter muitas oportunidades para dar voltas, e como não pegas sozinho, sentirás com a ajuda do grupo quando as deverás dar. Com a atitude que tiveste na Arruda tenho a certeza que não o farás só para aproveitar umas mais palmas que o habitual, ou porque a corrida é importante, ou porque queres sair por cima do grupo do lado. O Gomes “Urso” Pereira a oferecer-se para pegar;
A moral e confiança que se sente na malta nova por ter ao lado referencias com mais de 10 anos a pegar no GFAS, para além do Cabo Calhandra, como o Navalhinhas, o Rui Cabral, o Peidinha, o Larga Pelo, o Feria, o Peu,, o Ribamar, o Falcão. As transições entre gerações no GFAS fazem-se rápidas e dolorosas, a malta no GFAS deixa de pegar cedo, se calhar pela intensidade e exigência com que se vive e pega no GFAS. Não deixam contudo de haver bons exemplos em todas as gerações de quem aguenta a pressão muitos anos, sem deixar de trabalhar, sem deixar de casar, sem deixar de estar na vida de forma séria;
Ajudas “no sítio deles”, dando vantagens aos toiros mas sem a necessidade de provar nada a ninguém. Encostados às tábuas “porque sim” foi coisa que ninguém viu os ajudas do GFAS fazer, porque não precisam. Cada toiro é um toiro, cada arena tem as suas características, cada ajuda tem “o seu sítio”. Tenho a certeza que só assim saem pegas “de grupo” como as 3 que vimos. O João Torres leva um derrote para baixo que só um primeiro ajuda “no sitio dele” agarrava, como o Almeida fez, o Pauleta aguentou muitíssimo na cara do toiro a fugir ao Grupo, sendo que desse percurso só fez sozinho a viagem até ao primeiro ajuda. Ai estiveram Nelson em bom nível, Almeida em grande nível com uma viagem de largos metros com o cara, o cabo calhandra com uma quarta ajuda inspiradora, e grandes recuperações no final do Maestro Peidinha e do Filipe “the wall” Falcão.
Antes, durante e depois da corrida, a grande comitiva de antigos forcados que vi para além do Diogo Palha e do Roque, era composta por José Carrilho, Chico Gameiro, Peu Torres Sénior, Carlinhos Empis, Gonçalo Sepulveda, Antonio Narciso, JP, o meu irmão Francisco, Galhé e Alexandre Albergaria (se bem me conheço esqueci me de algum de certeza. Peço já desculpa...). O Afonso Cabral do Grupo de Évora e o Antonio Dentinho do Grupo de Montemor juntaram-se a nós no jantar, que decorreu a bom ritmo porque a hora ia alta e o dia seguinte era de trabalho. Mentia no entanto se não dissesse que me vim embora desapontado por não ouvir a rapaziada nova a partilhar com o grupo o que sentiu a pegar ou a ajudar, a sua vontade de pegar mais, a apresentar uma namorada ou amiga, ou a entoar um cântico. É também disto que a mística do GFAS é feita, não a deixem esmorecer só porque é segunda-feira, ou por outra razão pequena qualquer;
Duas palavras não poderiam faltar para o bacalhau e costeletas do FUSO: de sonho. Obrigado cabo pela escolha do sitio para jantar. Duas reflexões para acabar: As palavras normalmente ficam curtas a quem fala muito de si próprio...A enorme responsabilidade dos forcados actuais do GFAS em honrar os valores e a tradição de quase 100 anos a pegar sem parar por uma época ou por um toiro que seja (ao contrario de alguns que têm o seu próprio critério autista de antiguidade) obrigam-nos a continuar a pegar como nos ensinaram, deixando os prémios e eleições dos melhores para terceiros votarem. O Vitor Batista, jogador do Benfica dos anos Setenta, também dizia dele próprio ser o melhor do seu tempo e o segundo melhor de todos os tempos depois do Eusébio...a humildade não era propriamente o seu forte. Sabem como é que ele acabou?
Força GFAS P.Q.C. Abraço a todos, Pedro Seabra |