José Samuel Pereira Lupi completa no próximo dia 5 de Maio 80 Anos! Viveu-os todos - e vive-os hoje - pisando forte na Vida! Quem o conhece de perto sabe com que alegria e optimismo enfrenta cada hora da sua vida, fazendo dela um constante desafio, em que os momentos maus que a mesma lhe trás só lhe servem para tocar rápida e generosamente para a frente a fim de os ultrapassar. José Samuel Pereira Lupi nasceu em 1931, em Lisboa, vivendo toda a sua infância e juventude ligado a Rio Frio, onde os seus pais viviam a maior parte do ano, pois o pai geria então essa herdade. O seu pai e já os seus tios (na geração anterior) eram criadores há décadas de toiros bravos e de cavalos, tendo-se desde menino dedicado à equitação e, mais tarde, abraçado a arte do toureio a cavalo.
Desejando fazer desta profissão, sentiu sempre alguma resistência familiar, uma vez que, sendo o herdeiro de uma grande Casa Agrícola, teria que assumir desde cedo, após ter-se formado em Silvicultura, a gestão futura daquela.
José Samuel Lupi apresentou-se pela primeira vez no Campo Pequeno em 1955 e recebeu a alternativa em 16 de Junho de 1963 nessa mesma praça das mãos do Mestre João Branco Núncio, lidando o toiro "Verdugo" pesando 540 kg da ganadaria de Dona Mariana Passanha, o qual foi pegado pelo Grupo de Forcados Amadores de Santarém. Apresentou-se pela primeira vez em Espanha em Mérida no dia 12 de Outubro de 1966, tendo a partir daí, sem nunca ter deixado de continuar a actuar nas principais praças portuguesas, concentrado a sua carreira principalmente nesse país, onde se tornou figura cimeira.
O toureio a cavalo era em Espanha até à sua entrada em cena claramente uma arte residual no panorama taurino – os rejoneadores actuavam até então normalmente abrindo praça nas corridas apeadas, limitando-se a tourear um toiro. Com José Lupi, principalmente nos anos em que, acompanhado dos irmãos Peralta – Angel e Rafael – e Álvaro Domecq Romero, integrou "Los Quatro Ginetes del Apoteosis", a maior quadra de sempre da história do Rejoneo espanhol, o toureio a cavalo passa a integrar – o que até aí jamais se verificara – como cartel principal em todas as grandes feiras taurinas de Espanha. Abrem-se-lhe igualmente as portas da América Latina, toureando na Venezuela (de 1975 a 1980) e Colômbia (em 1978).
Festejou as Bodas de Prata da sua alternativa no dia 12 de Junho de 1988 na Praça Celestino Graça em Santarém, pegando o Grupo de Santarém e da Amizade (constituído por antigos forcados de diversos Grupos), tendo o primeiro dos toiros que lidou sido pegado pelo seu grande amigo e um dos maiores forcados do seu tempo (e de sempre), Luís Freire Gameiro, dando juntos volta en honor de multitud.
O cavalo que lhe deu maiores êxitos foi indiscutivelmente o Sueste de ferro Atalaya (com uma longevidade notável, pois viveu 36 anos!), um verdadeiro mito na História dos cavalos de toureio. Também o Ultimatum desse mesmo ferro, o Goldfinger de ferro Conde Cabral, o Feroz de ferro Gama, o Ibail de ferro Rio Frio e o Cordobes de ferro Lico foram corcéis de grande qualidade e que lhe proporcionaram grandes momentos de sucesso nos cosos em que actuou.
Evidenciou-se igualmente enquanto ganadeiro, actividade a que se dedicou desde os finais dos anos 50, com a ganadaria que herdou com o ferro Rio Frio (de origem Pinto Barreiros) e, posteriormente, acrescentando a direcção desde meados dos anos 60, da ganadaria de ferro José Lupi, originária de Fermin Bohorquez, de encaste Urquijo. O mesmo acontecendo com a coudelaria que herdou e desenvolveu, cujos produtos se destacaram ao longo de décadas como cavalos de desporto e de toureio.
Fardou-se no Grupo de Forcados Amadores de Santarém na segunda metade da década de 50, por aí pegarem muitos dos seus maiores amigos, que com ele acompanhavam desde tenra idade – de entre outros, o António José Teixeira, os irmãos Vasco e Fernando Fernandes, o António Alcobia, o António e o José Torres Vaz Freire. Foram exclusivamente as grandes amizades que mantinha naquele Grupo e o espírito que os unia que o fez pisar arenas enquanto forcado. Ali pegou alguns (não muitos…) toiros como cernelheiro, mas o seu destino enquanto cavaleiro tauromáquico não lhe permitiram continuar aí por muito tempo. Deixou, porém, uma enorme estima de quantos com eles privaram, tendo sempre sabido manter viva com o Grupo uma amizade e um reconhecimento sem mácula, honrando-se aquele de o ter tido entre os que envergaram a sua jaqueta.
José Samuel Lupi, tendo sempre mantido o traço distintivo do grande artista que foi, soube ser sempre um homem de grande generosidade, quer com os colegas, quer com todos aqueles com que trabalhou ou privou. Há nele um coração verdadeiramente simples que o faz próximo no trato com os outros, independentemente da sua condição, que lhe granjeou amizades em todo o Mundo e o transformou num dos mais populares artistas do panorama taurino – ontem e hoje – de Portugal e Espanha.
Nesta hora que é de festa, que é de júbilo, não pode deixar o Grupo de Forcados Amadores de Santarém de fazer também sua essa Grande Alegria!
Vai por si, José Samuel Lupi! Barroca d'Alva, 11 de Dezembro de 2010 - Os antigos elementos do Grupo de Santarém, José Samuel Lupi e Joaquim Monteiro, com o cabo Diogo Sepúlveda. (fotografia gentilmente oferecida pelo fotógrafo Pedro Batalha) |