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Que grande Cabo nós temos! Há que seguir o exemplo.

Ao vê-lo sair da enfermaria, mais de meia hora depois de lá ter entrado, o público rompeu numa ovação que se tornou unânime, com muita gente de pé, e que durou todo o tempo entre a porta da enfermaria e o sítio para onde se dirigiu para voltar a comandar o Grupo.

Foi esta a reacção do público que enchia ontem a castiça, antiga e aficionada Praça “Palha Blanco” ao ver o nosso Cabo Diogo Sepúlveda sair da enfermaria depois de diante de um toiro poderoso e difícil ter dado uma inenarrável lição de valentia, pundonor, estoicismo, “verguenza torera”, compromisso e verdadeira paixão pelo Grupo de Forcados Amadores de Santarém e por isto de ser Forcado.

Foi isto o que de mais importante se passou em Vila Franca no passado Domingo, dia 8 de Maio de 2011, e por isso o quis colocar em primeiro lugar neste texto para o nosso site.

Mas a corrida teve mais que contar: Foi a alternativa do cavaleiro Marcelo Mendes, apadrinhado por Luis Rouxinol com Vitor Ribeiro como testemunha. Lidaram-se 6 toiros de Canas Vigoroux, bem apresentados, com trapio, que pesaram entre 490 e 560 Kilos, e que mostraram, de forma inequívoca, que aqueles que acham que a emoção vem do peso estão completamente enganados. Nas palavras do próprio ganadero houve mais emoção que bravura. Mas com a falta de emoção que hoje em dia reina nas nossas praças estou certo que o público ficou satisfeito com as emoções que a corrida proporcionou. Não houve triunfos de nota mas houve muita emoção e muitos grandes detalhes. Connosco pegou o Grupo de Vila Franca, que ajudou de forma brilhante, e pegou por Pedro Castelo (2ª tentativa), Ricardo Patusco (à primeira) e Márcio Francisco (à segunda).

Tive o privilégio de assistir à corrida na trincheira, junto do nosso Grupo, convidado pelo cabo Diogo e é com o olhar de quem esteve perto que vos conto o que vi. O primeiro toiro, sério e bem apresentado, teve um comportamento muito encastado, procurando sempre o cavalo para o colher. Metia bem a cara no capote mas rematava com força se o deixavam tocar.

O Diogo deu o toiro ao João Brito “Pauleta”. Gostei imenso de ver o Pauleta na trincheira. Diante de uma Praça cheia (Vila Franca enche quando o Grupo de Santarém lá vai!), numa tarde de compromisso, não é fácil abrir praça mas o Pauleta revelou estar calmo e mentalizado. Aproveitou a investida pronta do toiro que até permitiu uma reunião imperfeita. Foi bem ajudado até às tábuas por um grupo que era um misto de veterania e juventude, com o Nelson a dar primeiras. Nas tábuas o Grupo ficou todo para um lado e só o atenção do David Romão, que ao leme e no momento certo conseguiu meter outra vez o toiro dentro do grupo, permitiu que a pega se concretizasse.

O nosso segundo foi o toiro mais complicado da corrida, além de ser o mais forte. Manseou desde cedo, procurou tábuas, protestava muito no capote e quando arrancava era para fazer mal.

O Diogo deu o toiro a si próprio e de novo colocou a ajudar um grupo misto de veteranos e novos: Nelson nas primeiras, Manuel Quintela e Duarte Mendes a dar segundas. Pedro Soares, Manuel Lopo de Carvalho e Filipe Falcão nas terceiras. David ao leme.
A primeira tentativa foi violenta e extraordinária. O Diogo aguentou uma barbaridade mas infelizmente o grupo não conseguiu fechar a pega. Nesta tentativa saltou-lhe o ombro. Foi visível para todos, incluindo para todo o público. Quando podia perfeitamente ter-se retirado pela grave lesão que tinha o que o Diogo fez foi perfilar-se para nova tentativa. Fez mais 3 pegando à quarta. Foram momentos para os quais me faltam palavras. Houve vontade de ajudar (quatro primeiras de total entrega do Nelson e os segundas no seus sitio mas sem conseguir ajudar) mas o toiro punha muitas dificuldades batendo com violência e poder quer para os lados quer para baixo, tirando a cara em todo o momento.

O público obrigou o Diogo a ir aos médios agradecer e alguns, como esse grande forcado que foi o Jorge Faria, achavam mesmo que ele devia ter dado volta.

Por fim, saiu o quinto da tarde e nosso último. 490 Kilos de puro dinamite. O toiro procurou tábuas desde cedo mas de lá saia para comer o cavaleiro. Punha bem a cara no capote mas não permitia que lho deixassem na cara e era sempre violento nas arrancadas.

Para o pegar foi escolhido o António Imaginário “Jorginho” que, depois de mostrar enorme paciência e dedicação, passando anos a carregar a mala e a lavar casas de banho, ganhou o seu lugar no nosso Grupo. Todos os mais novos devem pôr os olhos no exemplo do Jorginho. Quem o vê hoje como uma das opções principais só pode sentir uma grande alegria. Ainda bem que ele conseguiu o seu lugar!

O Jorginho revelou bastante inexperiência mas, sobretudo, uma vontade, uma determinação, uma calma, uma raça e uma preparação física notáveis. Foram quatro tentativas de uma enorme violência nas quais se lesionaram o Nelson Ramalho (partiu o nariz na oitava primeira da tarde), o Duarte Mendes (embateu com muita força contra as tábuas na primeira tentativa), o Filipe Almeida (fez um valente lanho na cabeça). Em todas elas, excepto na segunda em que saiu a voar por cima dos segundas, o Jorginha se agarrou como uma lapa. Podia-se ter pegado o toiro à primeira tentativa mas, novamente nas tábuas, o grupo ficou todo entalado de um dos lados. Pegou-se à quarta, com uma primeira do Manuel Quintela (a dobrar o Nelson) que foi de volta à praça.

O público, reconhecendo a atitude do Jorginho, premiou-o com volta.

Podiamos ter pegado os 3 toiros à primeira? Podiamos. Existiram erros a corrigir? Existiram. No Grupo de Santarém há que exigir mais? Sim. Mas alguém deu o passo ao lado? Não. Alguém se negou? Não. Houve atitudes só ao alcance de grandes forcados? Sim. O balanço é positivo? Para mim, sim.

Tenho a certeza que esta corrida vai ficar na memória desta geração do nosso Grupo!

Acabo agradecendo-vos muito terem-se fardado em cada dos meus Pais que tiveram imenso gosto em receber este Grupo que me acolheu como família. Agradeço-vos muito por se terem mostrado valentes, daqueles de antes quebrar que torcer. E peço-vos que nesta fase mais difícil vejam todas as criticas como um incentivo, mesmo as criticas que achem injustas. Com o exemplo do Diogo Sepulveda e com o vosso empenho não tardará a que cada um de nós que vos critica esteja de pé a aplaudir-vos nas praças e a dizer muito orgulhoso que é do Grupo de Santarém.

Um grande abraço, deste que todos os dias agradece por vos pertencer,

Diogo Palha

 

Veja as pegas em: www.touros-e-touradas.blogs.sapo.pt

 

Vejam as fotografias da corrida clicando AQUI.

Mais fotografias em: http://fotos.sapo.pt/magostinho/albuns

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