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Alfredo Conde: um Homem diferente

No próximo dia 3 de Março, como já foi amplamente divulgado, o Grupo de Santarém vai pegar a sua primeira corrida da época 2012, numa praça desmontável instalada em D. Maria (Sintra). Trata-se de uma corrida de homenagem nacional a Alfredo Conde, natural daquela povoação, que foi um eminente cavaleiro de alternativa e também antigo forcado do GFAS.

Por todas estas razões, quisemos ir “conhecer” melhor esta figura da nossa Festa e do nosso Grupo, sendo que para isso nos socorremos de alguma literatura taurina, mas sobretudo de testemunhos de pessoas que com ele privaram de perto.

 

 

Alfredo Conde nasceu a 3 de Junho de 1934, precisamente em D. Maria, aldeia do concelho de Sintra.

Sendo filho do ganadero Alberto Rodrigues Conde, e irmão mais novo do cavaleiro Manuel da Silva Conde, cedo deu mostras de uma grande afición e de uma facilidade inata e fora do comum com o gado bravo.

Esta sua veia aficionada inicialmente levou-o ao toureio apeado, tendo começado a actuar em público no Verão de 1953. Aliás, em 27 de Julho desse mesmo ano, prestou provas para praticante de novilheiro, e chegou mesmo a actuar como tal.

Foi só alguns anos depois, e ainda antes de concretizar a sua vocação de cavaleiro tauromáquico, que a história de Alfredo Conde se cruza com a do Grupo de Forcados Amadores de Santarém. Foi forcado do nosso Grupo nas épocas de nas épocas de 1962 e 1963, altura em que este era capitaneado por Ricardo Rhodes Sérgio.

 

 

No entanto, de acordo com António Palha (“Nico”), elemento de proa do Grupo à época, ser forcado não estava propriamente nos planos de Alfredo Conde:

Embora o Grupo na altura atravessasse um grande momento, o Ricardo sentia que estávamos um bocado “desfalcado” de rabejadores…. E era verdade, apesar de ainda pegarem o Licas Rio Maior e o José Augusto Tabuleiros (“Prateleiras”), que tinham sido grandes forcados e rabejadores, mas a quem a idade já começava a pesar um bocado.
Temos que ver que na altura o Grupo pegava um toiro de cernelha em quase todas as corridas, e era fundamental ter um rabejador de confiança.
Se bem me recordo, foi o meu cunhado David (Ribeiro Telles) quem falou ao Ricardo no seu grande amigo Alfredo Conde, que era desembaraçado e muito valente.

E foi assim que o Alfredo, quase de repente e provavelmente sem sequer pensar em ser forcado, se tornou importantíssimo naquelas poucas épocas que andou no Grupo, antes de ser cavaleiro.
Naquele tempo, rabejou muitos toiros para o Ricardo, mas também para mim e para outros cernelheiros, sempre com um à-vontade fora do vulgar.

Era também muito poderoso, ao ponto de muitas vezes rabejar só com a mão direita, enquanto que com a mão esquerda me segurava na jaqueta, para que eu não me largasse!
Lembro-me em especial de uma pega boa que fizemos no Campo Pequeno, na alternativa do José Núncio.

Era uma simpatia de pessoa, e sobretudo um grande amigo.”

 

Essa é também a recordação que tem Alexandre Lourenço Marques (“Trepa”) que, por ter começado a pegar no Grupo de Santarém apenas no ano de 1964, já não coincidiu com Alfredo Conde no Grupo:

“Era uma pessoa encantadora, e manteve-se sempre muito próximo do Grupo, mesmo depois de se tornar cavaleiro. Na altura, não era muito normal um cavaleiro profissional jantar com os forcados, e lembro-me de muitas vezes o Alfredo ter jantado connosco.

Além disso, via-se que não era uma pessoa nada vaidosa. Pelo contrário, era extremamente simples e humilde, sentava-se connosco e era mais um, como nós!

Como forcado, já não tive a sorte de o ver pegar, mas todos diziam que tinha sido valente como as armas, era conhecido por isso.”

 

Por volta dessa altura, já estava a começar verdadeiramente a sua brilhante carreira de cavaleiro.
Tomou a alternativa na praça de toiros do Campo Pequeno, no dia 23 de Julho de 1963, das mãos do Mestre João Núncio, tendo como testemunhas o seu irmão Manuel Conde e José Mestre Baptista, numa corrida televisionada.

Rezam as crónicas que vestia uma casaca azul e oiro, tendo lidado um toiro Grave, de nome Bolero, e que pesava 510 kg. Obteve grande êxito, tendo dado duas voltas à praça após as lides dos seus toiros. As pegas foram efectuadas pelo (seu) Grupo de Santarém.


«Oh cavaleiro antigo, oh velho português,

Vestindo a seda antiga em seus recamos d' oiro,
Se o ferro vertical, alacre e colorido,
Teu braço ao alto e muito firme erguendo
Em nervoso corcel, em teu corcel de raça
Tu podes afirmar: - Sou Português; descendo
Desses viris heróis, vigor, gesto atrevido,
Que sabiam matar um feroz toiro em praça»

A. Anselmo Muacho (em “Alfredo Conde – Biografia de um Marialva”)


 

 

Tendo sido novilheiro, forcado, cavaleiro, mais tarde apoderado e um grande aficionado, foram no entanto as qualidades humanas de Alfredo Conde que mais se destacaram e ainda hoje são recordadas. Amigo do seu amigo, principalmente nos momentos mais difíceis, Alfredo Conde foi sem dúvida um homem invulgar.

Para a história ficou o dia em que, numa atitude célebre, salvou a vida a David Ribeiro Telles na herdade da Torrinha. Fomos falar com João Ribeiro Telles, que nos contou o que aconteceu nesse dia:

No princípio dos anos 70 (não sei precisar o ano), teve lugar uma corrida na Praça da Vila Viçosa que, como se sabe, está com a nossa família há muitos anos. Os toiros lidados nesse dia também vinham lá de casa, e houve um em especial que chamou a atenção do meu pai.
Não só porque se mostrou bravo e nobre dentro de praça, mas porque nos curros a seguir à lide, estava cheio de lágrimas nos olhos, como se estivesse a chorar.

O meu pai encheu-se de pena, e por isso decidiu levá-lo de volta para a Torrinha, embora não soubesse bem o uso que lhe daria."


"Alguns dias depois, o toiro já estava num curro na Torrinha, mesmo junto ao tentadero. A ideia, segundo me lembro, era voltar a tentar o toiro, e eventualmente usá-lo para semental das vacas no futuro.
O meu pai, o seu peão de confiança João Romão, o meu irmão António, e ainda o Alfredo Conde - que era muito lá de casa - estavam em cima dos curros, quando de repente o meu pai se desequilibrou e caiu no curro onde estava o toiro corrido em Vila Viçosa…

O toirou “caiu” imediatamente em cima do meu pai, que foi corneado várias vezes, em especial no abdómen, de forma impressionante.
No meio do pânico e do desnorte daquela situação, que era de tragédia iminente, foi o Alfredo Conde o primeiro a agir. Saltou para o curro imediatamente ao lado daquele, e por uma nesga da porta, aproveitando um momento em que o toiro, cheio de sentido, não o estava a ver, para entrar no curro onde estava o meu pai.
O Alfredo então agarrou o rabo do toiro, e foi a rabejar que conseguiu tirar o toiro daquela manga até ao tentadero, possibilitando assim que o meu pai fosse ajudado.

Apesar da gravidade da cornada, o meu Pai recuperou e, como não podia deixar de ser, ficou eternamente grato ao Alfredo Conde. Tanto que, ainda hoje, se pode ver nas paredes do tentadero, um azulejo com a imagem de S. Alfredo, ali colocado em sua homenagem.”

 


Por todas estas razões, é mais do que justa a homenagem nacional que será feita a Alfredo Conde no próximo dia 3 de Março, e comparecer em D. Maria torna-se assim quase um dever de todos os aficionados.

E é, em suma, com um orgulho muito especial que o Grupo de Santarém integrará o cartel dessa tarde de toiros, assim se associando a esta grande e merecida homenagem!

 


 

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