"FORCADO"
Ei-lo que surge garrido Na jaqueta de ramagem Barrete verde atrevido A transbordar de coragem
A calça É justa E realça O belo porte do andar! Majestoso Vagaroso Que nem de leve se assusta Ao ver o toiro avançar
Meia branca rendilhada Esticadinha a primor, Oferta da namorada Que lhe deu seu amor.
A cinta viva, escarlate, Da cor rubra das papoilas É inveja das moçoilas Descoradas de tez mate.
E a camisa muito branca Sobre esta cor tão garrida Dá um contraste que encanta Mesmo a alma insensitiva
E a gravatinha vermelha A irritar a estreiteza, Traz em si qualquer centelha De genica Portuguesa!
Reparai nele a correr de sapatão amarelo, É ágil, leve a valer Que é um regalo de vê-lo!
E a bravura? E a afoiteza? Nisso nem é bom falar. Há nele tanta e tamanha Que é da gente se assustar! Até o povo se espanta Ao ver tal coragem tanta Sem nunca mais acabar!
Tão grande força e destreza Foi um legado Risonho Afortunado E medonho Da velha grei portuguesa Que se aventurou ao mar!
Mas a par desta rudeza De forte acção varonil Tem no amor a subtileza Que envergonha o mais gentil!
Tem mil requintes de graça Seu proceder amoroso, Tem génio, alma a valer Seu conquistar presunçoso… Ai de quem frente lhe faça Que fica sempre a perder
Com tamanha ramalhete De virtudes variadas Ele é mesmo o galhardete E resplendor das touradas
Porque a ardência febril da nossa raça Só treme…quando o forcado desce à praça!
Ao Forcado Amador de Santarém
Maria Manuela Alves Figueira da Foz, 1946 |