Em S. Martinho do Porto fui parceiro do Nuno em todo o tipo de torneios e jogos que aí se organizavam. Num tal “Palavra puxa Palavra” o Nuno tinha que me dar, numa só palavra, o mote para, imaginem, NUNO MEGRE. Andou, obviamente, por “ forcado”, por “ovelhas” por “Salgados” … e eu nada! Aquela hipótese não me passava pela cabeça. Com o gongo a ameaçar e encostado às cordas o Nuno arrisca, com um sorriso tímido, o trunfo que ele sabia que não falhava: - HERÓI!
Num reflexo imediato atiro, ante o entusiasmo da malta que preenchia o velhinho hotel:
- NUNO MEGRE!
Falamos de alguém especial. Enfrentava, tranquilo, as enormes ondas dos Salgados, a corpo limpo ou de moto de água, perante o olhar incrédulo da gente na praia e o desespero do nadador salvador, a quem tinha de explicar mais tarde que a bandeira encarnada era um exagero. O certo é que ajudou muita gente a sair daquela armadilha que teima em aparecer nos noticiários pelos piores motivos. Por detrás deste unânime estatuto estão histórias, aventuras e pegas extraordinárias com o Nuno como protagonista. Mas está principalmente, e isso é o mais importante, alguém com uma dimensão humana ímpar. Alguém para quem os outros estão sempre em primeiro lugar, e muito à frente dos seus feitos. Como forcado … tantas recordações.
Em Agosto de 1975 pegamos na Nazaré uma corrida de Graves com o grupo de Montemor. Tentei pegar de cernelha o terceiro toiro que, em 3 tentativas, me deu uma das maiores sovas da minha carreira. O Zé Manuel Barreiros indicou o Nuno para me emendar. O estilo de pegar de caras do Nuno era inconfundível!: com o barrete bem enfiado na cabeça – só se via bigode – citava de longe e desafiava o “toiro, toiro” de uma forma peculiar com a assistência desde logo entusiasmada. Mas naquele dia foi diferente. Atravessou a praça, furioso, como que zangado pelo mal que o “Grave” me tinha feito. Caminhou na direcção do toiro que estava virado para as tábuas, bateu-lhe na garupa e este reagiu com um coice que o deixou sentado a 3 metros. Virou-se, investiu e o Nuno, sentado, fechou-se à sua maneira. Na praça foi o delírio e eu senti-me vingado.
Bem hajas Nuno e obrigado por tudo. Joaquim Pedro Torres
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