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Caro Nuno,...

Quando me pediram para escrever sobre ti,  disse que não. Não me sinto com capacidade literária suficiente para este assunto. Uma das coisas que menos aprecio nos tempos que correm, é que toda a gente sabe de tudo. Todos emitem opinião sobre isto ou aquilo, das mais variadas formas escritas ou falada. Defendo a ideia que há pessoas mais aptas do que outras para determinados trabalhos. Ora eu não tenho conhecimentos literários para exprimir por escrito aquilo que sinto a teu respeito. De qualquer forma, depois de pensar sobre o assunto, resolvi que não podia deixar de, mal ou bem, escrever-te umas palavras.

Quando o meu irmão Joaquim começou a pegar, comecei a ter atenção no Grupo e havia um “gajo “ pequenino que fazia quase sempre a melhor pega da corrida. Como torcia pelo meu irmão, e ainda não estava embebido pelo espírito do Grupo, esse “gajo” dava-me um bocado de “galo”. Hoje, faço parte do Grupo dos seus fãs. “Tás a ver de quem estou a falar ?”

Sobre as tuas qualidades de forcado, penso que está quase tudo dito, e testemunhado por aqueles que te viram pegar. O que muita gente ainda não se inteirou foi da importância que tiveste na vida do nosso Grupo.

Não posso deixar de dizer às pessoas que, por exemplo, mesmo sendo tu o elemento mais velho do Grupo, portanto, teoricamente aquele que teria alguma preferência no que respeita a pegar este ou aquele toiro, nunca usaste desse “direito”, muito pelo contrário, estiveste sempre disposto a pegar o pior toiro da corrida.

Muitas vezes, quando eu dizia no dia a seguir à corrida que tinhas feito a melhor pega, as pessoas às vezes perguntavam: “ Foi de caras ou cernelha ?”

Agradeço tudo o que me ensinaste e  todas as vezes que me aconselhaste nas decisões que tive  tomar na escolha de forcados, bem como na maneira de pegar este ou aquele toiro.

Obrigado também por me teres feito sempre sentir à vontade, porque quando não podia estar nalguma corrida, tu comandavas o Grupo.

Enfim, o Grupo de Santarém há muito que te reconheceu o mérito que tens. Mas esta Quinta-feira, vais ser publicamente reconhecido e homenageado por tudo o que fizeste enquanto Forcado do Grupo de Santarém. Por isso estamos todos particularmente felizes.

Não quero deixar de felicitar o Simão Comenda, que, embora não tenha sido seu contemporâneo, pelas histórias e relatos que ouvi da tua boca, e de antigos elementos do Grupo de Santarém, consigo compreender o significado que tem para o Grupo de Montemor em particular, mas também para os forcados em geral.

Um abraço do teu amigo

Carlos Grave

Setúbal, 1984

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