Começo por agradecer ao Diogo por me atribuir esta enorme responsabilidade de por em palavras o que vivi em Évora por ocasião da corrida que o grupo aqui pegou de homenagem ao Eng. Joaquim Grave, ganadero e antigo forcado do Grupo de Santarém.
A corrida prometia, com um curro de 6 toiros Grave que dignificaram justamente o homenageado, 3 jovens cavaleiros a darem uma lufada de ar fresco ao cartel e os Grupos de Forcados de Santarém e Évora. Na minha modesta opinião a grandeza da pessoa do Eng. Joaquim Grave, com uma vida inteira de dedicação e trabalho que tanto contribuiu para o mundo taurino, não foi condizente com a afluência de público na nova praça de Évora. Um pouco incompreensível. No entanto foi uma noite e uma homenagem lindíssima, que reuniu toda a família Grave e onde se lidou um curro de toiros imponentes que tanto dignificou o seu nome e da ganadaria. Arrisco afirmar que todos os que não tiveram presentes perderam uma inesquecível corrida de toiros e a oportunidade de homenagear aquele que foi o maior ganadero português.
Os 6 toiros que saíram à praça eram verdadeiras estampas, tremendamente sérios e com casta, a trazerem verdade e emoção ao toureio, para mim os ingredientes fundamentais para me levarem a uma praça de toiros.
Os três cavaleiros não tiveram pois uma noite fácil. João Ribeiro Telles Jr. foi o que melhor se entendeu com os Graves e com muita raça e esforço conseguiu estar à altura principalmente no primeiro do seu lote. O Francisco Palha esteve valente e com vontade, principalmente depois da tremenda colhida sofrida no seu primeiro, mas na verdade um pouco desencontrado nas duas lides e sem conseguir chegar ao público. O João Salgueiro da Costa também não teve uma noite acertada e apesar da vontade mostrada não lhe foi fácil entender-se com os seu toiros, deixando duas lides com muitos altos e baixos.
Noite especial para os forcados, de extrema responsabilidade pela homenagem, praça de Évora e curro lidado. O Grupo de Évora teve em praça uma actuação com muita dignidade no ano em que comemora o seu 50 aniversário. Para o segundo da ordem foi Ricardo Sousa que pegou à terceira. Apesar de ter demonstrado uma determinação incrível, o toiro tinha uma reunião violenta e necessitava que o forcado suavizasse esse momento. Para o quarto da ordem foi o João Pedro Oliveira que protagonizou o momento da noite, arrancado um verdadeiro pegão ao toiro mais sério da corrida. Não consigo imaginar outra forma de se pegar aquele toiro se não com a determinação, confiança, calma, saber, toureria, humildade e um coração do tamanho do mundo, algo que está ao alcance de muito poucos. Parabéns Guga! Para o último da noite foi o José Manuel Martins que não se entendeu com um toiro ingrato que não lhe permitiu fechar com chave de ouro, concretizando apenas à terceira tentativa.
O grupo de Santarém tinha uma corrida de extrema responsabilidade, não só pela praça de Évora que tanta ligação tem ao grupo, mas principalmente pela ligação tão próxima ao homenageado ganadero, antigo forcado do grupo nos anos 40 e pai de 3 enormes forcados, um deles Cabo marcante, e avô de 3 mais recentes elementos do nosso grupo. Esteve à altura e de que maneira! Não foi uma actuação "limpinha", foi uma actuação fantástica, imponente!
Para o primeiro foi o António Jesus com um bonito brinde a toda a família Grave e aos céus, onde lá de cima o seu avô viu orgulhoso a alegria e à vontade com que caminhou para o toiro, pegando sem complicar e com ajuda especial do seu primo Miguel Navalhinhas bem como do Pedro Cabral, que em boa hora se uniram a esta homenagem, dando uma perninha e mostrando porque foram considerados dois dos melhores ajudas da sua geração.
Depois foi o João Brito que fez um bonito brinde de apoio ao António Vacas de Carvalho, próximo cabo do Grupo de Montemor, neste momento difícil que atravessam. Com a sua habitual presença ímpar, citou lá bem de trás, para mim talvez um pouco demais, gosto de ver, mas acho que não é com todos os toiros. Neste em concreto, sou da opinião de se iniciar o cite um pouco mais à frente pois era ali bem perto que ele te ia obedecer... (Isto visto lá de cima é tão mais fácil...) Após esse desencontro no diálogo, corrigiste e de que maneira, soubeste estar firme e decidido em terrenos onde a maioria vacila, mandaste e interpretaste bem terrenos apertados, aguentando e sacando-te para te fechares com ganas, resultando uma excelente pega que até pareceu fácil, mas que só o foi porque transformaste em fácil o que poderia ter sido um bico d'obra. Parabéns Pauleta, estás um forcadão e actualmente és o forcado que mais gosto de ver em praça. Uma nota ainda para a extraordinária primeira ajuda que o Nelson deu.
Para o nosso último o Diogo mandou e bem o João Torres. Esteve simplesmente imponente sem um único reparo. Com o toiro muito bem colocado, citou muito bem com uma postura séria e firme, mandando sempre, carregou e provocou a investida quando quis, aguentou, recuou trazendo o toiro, mandou na reunião e fechou-se com alma de leão. Extraordinário, grande pega muito vistosa, também superiormente ajudado pelo Nelson e restante grupo.
De referir também que a corrida foi muito bem dirigida por uma jovem equipa, director Manuel Gama assessorado pelo veterinário Xana Reis. Um abraço para os dois com o desejo de muitos êxitos!
Não tive na fardação mas deixo aqui um agradecimento à Teresa Grave e Filipe Jesus por terem aberto as portas de sua casa ao grupo.
Seguiu-se depois para o Jardim do Paço, ali bem juntinho ao Templo de Diana, para um magnifico jantar conjunto com o Grupo de Évora que pela pessoa de seu cabo António Alfacinha dirigiu em boa hora um convite ao Diogo para que os dois Grupo jantassem juntos. Foi uma noite magnifica de convívio entre muitos amigos a revelarem um grande espirito de camaradagem, respeito e admiração mútua. Da minha parte agradeço ao Diogo e ao António me terem proporcionado uma noite tão bem passada. A noite foi longa e os discursos acabaram já de dia, dos quais destaco e agradeço o privilégio da presença do Carlos Grave e Nico Mexia bem como as suas tão importantes palavras deixadas.
É um grande orgulho ver que os anos passam e os princípios e forma de estar dentro e fora de praça se mantêm inalteráveis, parabéns ao Diogo Sepúlveda por ter a capacidade de absorver e transmitir esses valores ao atual grupo nesta fase histórica em que estamos tão perto de comemorar 100 anos a pegar toiros ininterruptamente.
Mais uma vez agradeço esta fantástica noite de toiros e convívio. Um grande abraço a todos!
Manuel Murteira Em baixo o vídeo que nos foi gentilmente cedido pela Carla Carapinha:
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