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Ricardo Rhodes Sérgio nasceu há cem anos

Ricardo João Rhodes Sérgio nasceu em Rio Maior a 8 de Dezembro de 1913. Cumpriram-se há dias cem anos! Frequentou a Escola de Regentes Agrícolas de Santarém, em cujas garraiadas interveio como moço-de-forcado, tendo evidenciado excelentes recursos físicos e técnicos. Corria o ano de 1936 quando Ricardo Rhodes Sérgio integrou o Grupo de Forcados Amadores de Santarém, então capitaneado pelo seu fundador, António Gomes d’Abreu, dando testemunho de uma forma muito peculiar de consumar a sorte de pega, aprimorando-se de tal modo nas sortes de cernelha, de que terá sido o melhor cultor de todos os tempos, que estas deixaram de ser consideradas sortes de recurso, para passarem a ser concretizadas com muita frequência, mesmo a insistente pedido do público, que vibrava com as suas fulgurantes “cernelhas, em que, vezes não raras, voava sobre os cabrestos para se agarrar que nem uma lapa à cernelha do toiro, com Jorge Duque a rabejar superiormente.

Em 1948, Ricardo Rhodes Sérgio assumiu a chefia do Grupo, sucedendo a D. Fernando de Mascarenhas, o que constituiu uma escolha natural e unânime, pois, a sua dedicação e competência nunca foram questionadas, sabendo sempre responder positivamente a todas as situações com que o Grupo se via confrontado. Durante vinte e um anos foi Cabo do Grupo de Forcados Amadores de Santarém, elevando a um plano nunca antes atingido, não só o Grupo escalabitano mas também a figura do Forcado Amador. De Ricardo Rhodes Sérgio será difícil afirmar se foi melhor Forcado – no desempenho técnico e artístico da sorte de pegar – ou melhor Cabo, tal a firmeza das suas competentes decisões no comando do Grupo e na condução dos forcados às suas ordens, o respeito que soube granjear junto de todos os agentes da Festa, desde os empresários aos ganadeiros, passando por cavaleiros, bandarilheiros e campinos.

No alto do seu porte senhoril, Rhodes Sérgio era idolatrado pelos jovens forcados a quem competia comandar, jamais ousando questionar qualquer uma das suas opções, e era, igualmente, uma das principais referências entre os principais grupos de forcados em actividade no seu tempo. No princípio de cada ano os principais empresários convocavam-no para uma reunião, a fim de lhe apresentar o desenho da sua temporada, dando-lhe a opção de escolher as corridas em que gostava que o seu Grupo pegasse, e, do mesmo modo, os cavaleiros, entre os quais o próprio Senhor João Branco Núncio, quando o toiro “não servia” para a lide, tinham o cuidado e a atenção de lhe perguntar se queria que mexesse mais no toiro ou que tentasse cravar mais algum ferro. Sinal de respeito pelo Forcado e pelo Homem.

A 1 de Junho de 1969, Ricardo Rhodes Sérgio passou o ceptro do comando do Grupo a José Manuel Souto Barreiros, culminando, assim, uma carreira de trinta e três anos de uma dedicação inexcedível, de tal sorte que os seus amigos mais próximos, costumavam dizer que Rhodes Sérgio se tinha mantido solteiro por haver casado com o Grupo.

Sobre Ricardo Rhodes Sérgio escreveu o inolvidável crítico taurino Leopoldo Nunes, em 1965: “Todavia, se foi grande a classe de Ricardo Rhodes Sérgio como pegador, ainda mais alto relevo atingiu como cabo. Neste cargo foi a maior revelação de todos os tempos, pela competência com que dirige o Grupo, seguro das possibilidades de todos os elementos, atento sempre à evolução do comportamento dos touros, presente e activo em todas as situações de emergência sem olhar aos riscos, ao mesmo tempo forte e paternal no comando, impondo a disciplina sem a menor quebra de respeito pelos seus subordinados, leal e amigo, distinto nas praças e na sociedade.”

Foi sob o seu comando que o Grupo de Forcados Amadores de Santarém foi galardoado pela primeira vez com a Medalha de Mérito, atribuída a 26 de Maio de 1965, e imposta pelo então Presidente da República, Almirante Américo Thomaz.

No dia 8 de Outubro de 1978, realizou-se na Praça de Toiros Monumental “Celestino Graça”, em Santarém, uma corrida de homenagem a Ricardo Rhodes Sérgio, com o seguinte cartel: seis toiros da ganadaria Palha Blanco para os cavaleiros José João Zoio, Manuel Jorge de Oliveira e João Moura e para o Grupo de Forcados Amadores de Santarém, capitaneado por José Manuel Souto Barreiros. Pegaram de caras os forcados Carlos Ferreira, Francisco Sepúlveda, Nuno Megre, Nuno Ribeiro de Almeida e Joaquim Grave; destaque para Joaquim Pedro Torres em enorme pega de cernelha, com Carlos Empis a rabejar.

Quis o destino, porém, que Rhodes Sérgio falecesse na véspera desta homenagem, pelo que o seu funeral teve lugar, em ambiente da maior consternação, apenas algumas horas antes da realização da corrida, que ficaria a perpetuar para todo o sempre a grandeza deste Homem e deste Forcado.

 

Ludgero Mendes
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