Não consegui negar um pedido que me foi feito, para fazer a crónica da corrida do Centenário, não sei se estarei à altura de a fazer, pois logo esta corrida vivida com tanta ansiedade, com tantas emoções à flor da pele, que de certeza, muita coisa me escapou para fazer um relato preciso, de uma corrida que vai ficar para a história do grupo. Que me perdoem se me esquecer de algo importante, mas vou tentar descrever o que vi e o que vivi naquelas horas. Depois de tanta expectativa e ansiedade, o tão desejado dia da comemoração, chegou! Já tinha assistido há uns anos atrás à corrida dos 50 anos e nesta corrida quando todos entraram em praça revivi esses tempos e lembrei-me dos que já partiram e também de todo o percurso que percorri com o grupo até aos dias de hoje. Senti saudades, mas também uma grande alegria por tudo o que tenho vivido com o grupo preparando-me com grande expectativa e emoção para o desenrolar da corrida. E digo-vos que vibrei do princípio ao fim, não só pelas pegas em si (todas elas um hino à valentia, à coragem, à amizade) mas também por aquele misto de actuais e retirados, unidos pelo mesmo ideal, gerações de pais e filhos, empenhados em honrar a jaqueta do grupo que tanto prezam, fazendo da sua actuação uma homenagem a todos que pelo grupo passaram nestes 100 anos. O Grupo de Forcados Amadores é uma grande família e isso foi evidente nas várias gerações que estiveram em praça bem como no desempenho de todas as pegas. O entusiasmo, a emoção, a solidariedade, a amizade, a entrega que é apanágio do grupo desde sempre, estiveram patentes em todas as pegas. O cartel era constituído pelos cavaleiros mais antigos de alternativa, com excepção de Vítor Ribeiro, João Moura, Joaquim Bastinhas, António Ribeiro Telles, Rui Salvador, Luís Rouxinol e Vítor Ribeiro. Os toiros pertenciam à Ganadaria Murteira Grave. Um curro sério e muito bem apresentado. Como era de calcular, o nosso Cabo Diogo Sepúlveda abriu praça e brindou ao público presente, e com que bela pega ele nos brindou! Tudo foi perfeito do princípio ao fim, aliás como nos habituou e o grupo coeso a ajudar num misto de actuais e retirados, tendo sido lindamente rabejado por Carlos Grave, antigo Cabo. No segundo toiro, que surpresa, Gonçalo da Cunha Ferreira, também antigo cabo, que dedicou a sorte ao pai de Francisco Seabra, e que efectuou outra bela pega, como se os anos não contassem e ali não contaram mesmo! Para o terceiro da tarde, saiu o experiente António de Jesus, para um toiro nada fácil, que nunca saiu das tábuas, perto da saída para os curros e que em todas as tentativas se quis desembaraçar do forcado. A pega foi consumada à quarta tentativa com toda a valentia e coragem do António que não merecia tal comportamento. A pega foi brindada aos cabos. Após o intervalo e das homenagens, foi a vez de outro veterano e excelente forcado, Manuel Murteira, que teve a gentiliza de me brindar a pega. O Manuel fez tudo perfeito como é seu costume, mas o toiro “despejou-o” cá atrás depois de aguentar fortes derrotes, mas na segunda tentativa fez uma pega excelente, uma pega perfeita com o público todo a aplaudir, bem ajudado pelo sobrinho, Pedro Cabral, também retirado. O toiro foi bem rabejado por António Cachado. A expectativa de quem iria pegar ainda mantinha-se, pois todos pareciam ter vontade de participar e deve ter sido difícil para o Diogo, fazer a escolha. Para o quinto toiro, e costuma-se dizer na gíria “que não há quinto malo” saiu para a pega outro forcado de eleição, também retirado, Gonçalo Veloso, que executou outra bela pega à primeira tentativa, toureando como ele sabe fazer. De salientar uma grande ajuda de Nélson Ramalho. E tal como nos contos de fadas há sempre um fim feliz, a corrida terminou da melhor maneira com uma grande pega do António Gama, que parecia não ter passado tantos anos, pois foi o mesmo Tó Gama que fazia vibrar o público, que ali estava a bater as palmas ao último toiro efectuando uma pega que fez levantar o público, aguentado vários derrotes com o toiro a fugir ao grupo. Rabejou o toiro outro forcado retirado e que também foi cabo, Carlos Empis. A corrida terminou num clima de apoteose e tenho a certeza que todos os que por cá passaram se sentiram homenageados e ao mesmo tempo orgulhosos de terem pertencido a esta grande família que é o nosso Grupo de Santarém. Dirigiu a corrida com acerto e certamente com muita emoção, o antigo forcado do Grupo de Santarém, Manuel Gama. O grupo foi homenageado no princípio da corrida pelo Presidente da Câmara de Santarém, que resumiu o historial do grupo, pela Associação Nacional dos Grupos de Forcados e por alguns cabos de outros grupos, que também quiseram associar-se a esta homenagem. No intervalo da corrida houve a foto da praxe e o descerrar da lápide junto ao museu do grupo. Seguiu-se um grande jantar na Quinta do Mocho à altura do Centenário, e houve festa pela noite dentro. Que venham mais Centenários! Pelo Grupo de Santarém, venha vinho! Um beijinho a todos da Madrinha! |