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"Somos nós!"

Corrida do Campo Pequeno 23 de Julho de2015

Quando se prepara uma noite de esplendor eu mantenho sempre a reserva. As expectativas tão altas por vezes são traiçoeiras: Campo Pequeno, pequeno demais para tanta gente; o centenário grande demais; a medalha da Ordem de Mérito tão aguardada; as seis pegas que se querem enormes para o Grupo; e os nossos corações descompassados, a pulsarem do lado certo do peito.

Em praça, tanto no discurso como na primeira pega da noite, o Diogo cita os valores do Grupo e os valores de Portugal que «continuaremos a defender.» Que belo é este sentido de raízes, este sentido da nossa terra que seguramos entre as mãos. Relembrei naqueles segundos uma história com 100 anos. Estavam ali presentes, posso-vos garantir, os nove cabos do Grupo e toda a rapaziada que um dia se orgulhou de vestir a jaqueta. Praça esgotada, caramba! Vi a amizade, vi o amadorismo, vi a entrega, vi a solidariedade, a união, o exemplo, o carisma singular, e o sentido de responsabilidade. Eu vi-os. Todos os sentimos ali na luz forte e intensa, naquele acorde de alegria e de júbilo que une passado e presente, que une os outros a estes, que dá nós e que significa «somos nós!».

Alguém, no camarote onde estava, relembra o que de tão singular tem este silêncio limpo que antecede a primeira pega da noite. 7 mil pessoas de olhar colado e calado, na arena. Perguntam-me se sofro mais depois de ter escrito o livro. Respondo que sofro sempre muito quando assisto a este desafio entre a amizade e a força. O Diogo mostrou-nos, logo à primeira, quem vence! 

Ao segundo toiro, lidado pelo João Moura Jr., vai o João Grave. Pega à segunda. Gosto muito do João, porque nele a tradição, o espírito de família, a educação, a responsabilidade e sobretudo a humildade são sinónimos de forcado.

Para o terceiro toiro sai o Luís Sepúlveda. Dedica-me a pega, sinto um arrepio fino. Não mereço esta honra, nem serei nunca capaz de agradecer. Já vi o Luís em dias bons e menos bons, mas a minha pega foi a mais bonita de sempre.

Obrigada, Grupo de Santarém, levaram convosco um pedaço de mim…

No intervalo, ao descerrar da lápide, a fotografia de Grupo, antigos e novos todos unidos no mesmo abraço. Os símbolos, as honras, as inscrições na pedra só fazem sentido quando são verdadeiros, quando são ecos de mérito e de um genuíno sentido de entrega ao próximo. E o Grupo é acima de tudo mérito e entrega ao próximo.

Na segunda parte, o Lourenço Ribeiro fez mais uma pega à 1ª tentativa, sentida e consentida que levantou a praça em aplausos. 

A que se seguiu a pega do António Goes.

Ainda «ontem» na minha outra actividade profissional, tive o António e os pais à mesa de trabalho. Era então, como hoje,  um rapaz tímido, discreto, sem alarido. Já vi e já li um testamento de imagens e palavras a respeito da pega da noite e provavelmente a melhor pega da temporada no Campo Pequeno. O António, honrando a seu nome de família – Goes rima com Grupo de Santarém – deu tudo, deu muito mais do que as três voltas a praça. O significado desta pega está plasmado em todas as 370 páginas do livro que o Grupo escreveu. Em toda elas, por palavras ou imagens, na prosa e na poesia, na dor e na glória lemos o seu mais profundo significado. O «tudo» do António não se explica, sente-se. Quem ajudou? 100 anos, um grupo em peso, a substancia íntegra das coisas profundas que são as mais belas e, no fundo, as mais simples: «estou aqui, por ti»

A fechar o nosso João Brito (Pauleta), como já se previa. A união na reunião que aguentou bem em corpo, alma e espírito. Não há derrote que vença este Grupo.

Fechou em beleza e em glória. Abriu em beleza e em glória. Abriu a PORTA GRANDE como nunca antes fora aberta para um Grupo de forcados; abriu a noite de festa e da Festa e abriu os próximos 100 anos também.

Como dizia o Calos Grave: «só há uma coisa que o Grupo de Santarém não tem: comparação»

Obrigada ao Grupo por este amor tão grande e tão bonito que me vêm ensinando e…não cuidem que se vêm livres de mim, já não sou eu «Somo nós». E que Deus nos proteja.

Maria João Lopo de Carvalho

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