Eram 6 da manhã quando arrancámos rumo a Oliveira de Frades, onde chegaríamos pelas 9h. À chegada apercebemo-nos logo da gravidade da situação e da forma como o fogo tinha atingido a região – eram montes e vales de perder a vista em tons de castanho e preto; cabeços carecas devastados pelas chamas… Encontrámo-nos com a equipa dos Médicos do Mundo para um rápido pequeno almoço e fizemo-nos logo à estrada: íamos ajudar a D. Lurdes que vivia com a filha, Helena, e com a irmã, D. Célia (que tinha perdido a casa e vivia desde então com a irmã e a sobrinha). O fogo de 15 de Outubro tinha consumido toda a área em volta da casa (que milagrosamente sobreviveu intacta, quem sabe graças a um nicho de Nossa Senhora com chamas aos pés que havia à entrada). Chegámos e já estavam as duas velhotas octogenárias de um lado para o outro a apanhar madeiras e a tentar varrer a entrada repleta ainda de entulho desde há um mês para cá. “Ai coitadinhos dos meninos que vieram agora praqui trabalhar de tão longe… Tanta vergonha que temos em precisar de ajuda… Quem nos dera poder voltar ao antes e não ser preciso estarem aqui… Olhamos pela janela e só vemos tudo negro, já nada tem cor aqui…” foram apenas alguns dos desabafos da D. Lurdes que ouvimos durante o dia, uma velhinha sempre sorridente que sobrevivia com uma pensão de “80 contos” (400€), que dividia com a filha desempregada. No terreno que ardeu perderam a horta com tomate, couves, ervilhas, favas; um castanheiro, um diospireiro, umas laranjeiras, uns limoeiros, galinhas, um lagar, etc… Conseguimos num dia de trabalho limpar o terreno, deitar fora todo o lixo e entulho, serrar e arrumar madeira para o inverno e fazer pelo meio um bocadinho de conversa para lhes alegrar o dia. “Oh menina, não fossem vocês contava estar aqui até à Páscoa!!...” dizia a Helena. A gratificação foi imediata. Entretanto punha-se o sol e seguimos para o armazém improvisado dos Médicos do Mundo onde parte da nossa entourage tinha ficado a fazer a triagem de caixotes e caixotes de roupa (um trabalho pouco entusiasmante mas essencial). Apesar do cansaço, reinava a boa disposição e conseguiram num dia despachar mais de 100 caixas de roupa! Ajudar não custa...” – mas a verdade é que custa sairmos da nossa zona de conforto e tomar uma atitude proactiva. No entanto a conclusão que tiramos é que vale a pena, porque só assim nos sentimos verdadeiramente recompensados e com sentido de dever cumprido. É nossa obrigação de alguma maneira ajudar quem tudo (ou quase tudo) perdeu. Obrigada aos Médicos do Mundo e ao Grupo de Santarém pela iniciativa e por nos ter proporcionado esta experiência tão enriquecedora. Mariana Lopo Carvalho
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