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Mensagem de final de época de João Grave

Caríssimos Amigos, Forcados Antigos e Actuais do G.F.A. de Santarém,

Chega agora ao final mais uma época de actividade do Grupo de Forcados Amadores de Santarém. A 103ª ininterrupta!

Será que António Abreu quando em 1915 fundou o Grupo de Santarém sonhava que passados 102 anos a história continuava, adaptada aos tempos claro, mas assente na mesma matriz de valores pelos quais ele próprio conduziu os primeiros elementos? Provavelmente não.

O Grupo vem de uma série de épocas festivas. Muita expectativa foi criada à volta do Centenário e a preparação foi intensa para o Grupo chegar na melhor forma possível. Era preciso ter um Grupo no activo à altura da importância das comemorações. No entanto isso não era suficiente, pois com uma história desta envergadura, nada faria sentido se as gerações antigas não estivessem lado a lado com a actual. Era preciso criar um livro, mas algo inédito! Um documento onde estivesse gravada a história do Grupo, onde viesse um bocadinho de cada pessoa que fez parte dessa história ao longo de 100 anos. Uma homenagem não só ao Grupo de Santarém, mas também à figura do forcado amador, pela qual o Grupo acabou por ter influência no seu aparecimento e evolução. Um livro que foi também original ao ser escrito por um olhar feminino e de alguém de fora do meio taurino: a escritora Maria João Lopo de Carvalho. Era preciso criar uma Comissão de Honra, constituída por uma série de figuras influentes na sociedade actual…

A vida não é perfeita, as pessoas não são perfeitas e mesmo as circunstâncias nos lembram que a perfeição não é característica deste mundo. Exemplo disso são as partidas, em vésperas das comemorações dos 100 anos, de figuras como o Senhor António Paim dos Reis, ou o Senhor Luís Freire Gameiro e também o nosso amigo Francisco Seabra. Perfeita ou não, a verdade é que a época do Centenário do Grupo de Santarém ficou gravada na memória de quem teve a oportunidade de a viver. Eu não me esqueço da emoção e comoção que senti ao ver pegar em Santarém forcados, que me lembrava de ver quando era pequeno, como o cabo Gonçalo da Cunha Ferreira, o Manuel Murteira, ou o “Tó Gama”. Parecia uma viagem no tempo pois o sentimento, a beleza, as características de cada um estavam lá, com a mesma naturalidade que 25 anos antes, foi arrepiante! Passados uns dias vinha outra corrida, em Lisboa, desta vez protagonizada pelos actuais e a fasquia não podia ter ficado mais alta. O Campo Pequeno esgotou, foram entregues ao Grupo pela Presidência da República as Insígnias da Ordem do Mérito e a verdade é que depois de pegados os 6 toiros, viveu-se à porta da Praça um ambiente e um sentimento que nunca nos iremos esquecer!

A época seguinte também foi festiva, afinal não é todos os anos que se despede um cabo do Grupo de Santarém e o Diogo Sepúlveda achou por bem ter chegado a sua hora. Cabo que levou o Grupo na recta final que antecedeu o Centenário e que, com ajuda de todos aqueles que achou por bem ter a seu lado, conseguiu criar para todos nós uma série de efemérides que fizeram com que esta data ficasse marcada para sempre.

O Centenário nunca foi para nós uma meta, mas sim um marco que todos quisemos gravar com a maior dignidade na história do Grupo. A história traz experiência e sabedoria e a nossa história continua agora a escrever-se, apoiada por um passado cada vez mais rico.

Na temporada que agora chega ao final o Grupo fez um total de 13 actuações. Certamente uma das temporadas em que o Grupo actuou menos vezes, durante a sua história. Creio que este número reduzido de actuações não está relacionado com um eventual momento de baixa forma que o Grupo pudesse estar a atravessar, mas com o panorama actual da festa. A tauromaquia já teve épocas mais fortes e todos nós nos lembramos disso, quando num passado relativamente próximo, víamos as praças de toiros encherem com regularidade, um pouco por todo o país. Nos últimos anos o número de espetáculos tem mostrado tendência a diminuir e isso somado ao facto de novos grupos de forcados que foram entretanto aparecendo, faz com que seja cada vez mais difícil fazer uma média acima de 20 espetáculos por ano, como tem sido habitual no Grupo. Esperamos que esta tendência se inverta.

Apesar disso o Grupo de Santarém esteve presente numa série de praças importantes e que dizem muito à nossa história como Santarém, Lisboa, Vila Franca de Xira, Abiúl, Évora, Caldas da Rainha, Salvaterra de Magos, Chamusca, Alcácer do Sal, entre outras.

Começámos a temporada com um Concurso de Ganadarias sério em Salvaterra de Magos. Depois veio a Feira de Santarém nesta temporada marcada por um grande número de corridas mistas, o que originou que o Grupo desta vez não tivesse a oportunidade de pegar 6 toiros na sua terra. Em Julho pegámos no Campo Pequeno a corrida da Alternativa do Cavaleiro Luís Rouxinol Jr. e em Agosto destaco as actuações nas Caldas da Rainha e também em Abiúl. Em Setembro voltámos a Lisboa e tivemos a nossa pior actuação da temporada em Alcácer do Sal, curiosamente depois de duas tragédias que aconteceram aos forcados Pedro Primo e Fernando Quintela, dos Grupos de Forcados Amadores de Cuba e Alcochete, respectivamente. As corridas que fizemos depois de Alcácer fizeram-nos lembrar que temos um Grupo em fase de renovação, com alguns forcados novos que precisam de rodar muito para ganhar maturidade e sítio. Pegámos em Vila Franca de Xira um Festival em homenagem ao nosso amigo José Pereira Palha e acabámos a temporada em Évora.

Assistimos à afirmação de forcados da cara que, apesar de novos, tiveram de assumir a responsabilidade nas corridas mais importantes. A época do António Taurino ou do Francisco Graciosa são alguns dos exemplos disso. Tivemos o regresso do Manuel Murteira que após 8 épocas sem pegar, mostrou estar em boa forma e bem preparado fisicamente, pelos anos que tem jogado rugby. Muitos mais forcados foram dando bons sinais, mas nitidamente faltaram oportunidades para rodar todos como mereciam.

Em relação aos ajudas houve um misto de maturidade e juventude, a andar para frente. O Manuel Lopo de Carvalho e o Pedro Dias Ferreira mostraram uma regularidade e um sítio muito bons a ajudar e tivemos forcados novos como o Tiago Madeira e o Emerson Kachiungo que depressa têm vindo a ganhar o seu sítio. O Manuel Quintela lesionou-se a ajudar o primeiro toiro da temporada e o José Fialho no 15 de Agosto nas Caldas da Rainha. Rapaziada ponham-se a pau que estes 2 para o ano não vão dar hipóteses!

A responsabilidade de ser rabejador do Grupo de Santarém continua entregue ao Alto Alentejo e o Miguel Tavares este ano assumiu essa responsabilidade ao rabejar perto de 80% dos toiros pegados pelo Grupo.

Quatro novos forcados fardaram-se pela primeira vez e tivemos a despedida do João Torres Vaz Freire na última corrida da temporada. O João foi o forcado da cara que pegou mais toiros na época em que o Diogo foi cabo e durante a sua passagem pelo Grupo, deixou-nos, através da sua entrega e disponibilidade, um exemplo do que é ser forcado no Grupo de Santarém.

Muitos nomes me ficam a faltar referir, pois muitos mais foram aqueles que pegaram, ajudaram e mostraram a sua dedicação ao Grupo de Santarém e mais um exemplo disso é o Nuno Caetano que apesar de viver em Madrid, só faltou a 1 corrida!

Não foi uma época redonda de êxitos. Teve pontos altos e baixos. Se por um lado fomos considerados pelo Campo Pequeno TV os triunfadores da temporada Lisboeta, tanto na melhor pega, como no melhor Grupo, por outro em Alcácer achámos bem não dar volta à arena em nenhuma das três pegas que fizemos.

Amizade, humildade e simplicidade são alguns dos valores que marcaram a primeira formação do Grupo de Santarém, capitaneada por António Abreu. Nem essa geração nem as seguintes viveram só de triunfos, mas realmente houve uma matriz de valores que se manteve inalterada ao longo destes 100 anos e que está por isso gravada na identidade do Grupo de Santarém. Corram as coisas melhor ou pior é essa matriz que temos a responsabilidade de defender sempre!

Hoje em dia existem muitas distracções, mas não nos podemos esquecer que durante a vida colhemos na mesma medida com que semeamos. Aos forcados actuais peço que semeiem amizade uns aos outros e amor ao Grupo de Santarém. Aquilo que gostamos e nos entusiasma, torna-se uma prioridade nas nossas vidas. Isso acontece com as nossas famílias, mulheres, namoradas, os nossos amigos, os nossos hobbies, profissões e, nesta fase das nossas vidas, tem de acontecer com o Grupo de Santarém. Basta olhar para trás e perceber que foi dessa forma que o Grupo foi encarado, por todos aqueles que ao longo de mais de 100 anos, fizeram o Grupo chegar onde chegou.

Aos forcados retirados do activo quero relembrar a importância que a Vossa presença tem para todos nós e que contamos com a ajuda de todos para continuar a transmitir os valores do Grupo às gerações mais novas.

Aproveito para agradecer a todos o apoio incansável que me têm dado a mim e ao Grupo nesta primeira fase como cabo. Tudo é mais fácil quando se tem ao lado um pilar de valores, de formação e motivação dos mais novos e disponibilidade para ajudar o Grupo em tudo, chamado Pedro Féria, ou a nossa querida Madrinha, Tia Bindes, disposta a dar a volta ao mundo para ver o Grupo de Santarém. Tudo é mais fácil quando se tem um grande número de pessoas que abre as portas de casa para o Grupo treinar, ou fardar-se.

Agradeço a todas as nossas famílias e amigos que se juntaram ao Grupo quer seja nas corridas, ou em outros eventos que organizámos este ano. Um agradecimento especial ao Dr. Carlos Ferreira que há 3 anos consecutivos abre as portas de casa para a Festa de Campo do Grupo de Santarém, apoiado por uma comissão organizadora de peso e que tem feito com que este evento ganhe um destaque cada vez maior na época de preparação da nossa temporada. Se Deus quiser voltaremos a repetir em 2018! Outro agradecimento à Família Lupi que este ano abriu as portas da Herdade da Barroca d’Alva para o Grupo fazer o almoço de Natal. Foi um dia muito bem passado e de convívio entre várias gerações.

Um Santo Natal a todos e que Deus nos dê saúde e alegria para viver com entusiasmo a temporada do ano 2018.

Pelo Grupo de Santarém Venha Vinho!

João Grave

Lisboa, 22 de Dezembro de 2017

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