De acordo com um célebre escrito de Albert Einstein: “a distinção entre Passado, Presente e Futuro é apenas uma ilusão teimosamente persistente. A única razão para existência do Tempo é que não aconteça tudo em simultâneo” (1955). Discussões metafísicas à volta do conceito do tempo podem parecer fora do lugar, mas fazem algum sentido quando falamos do Grupo de Santarém, até se considerarmos que o Grupo já pegava toiros há 40 anos quando esta frase foi escrita! O aparente paradoxo de termos um Grupo com mais de 100 anos, cheio de juventude e de vida. No passado dia 4 de Julho de 2024, em Lisboa, senti essa “ilusão” temporal bem de perto, tendo sido convidado pelo nosso Cabo Francisco Graciosa para estar junto ao Grupo de Santarém na trincheira do Campo Pequeno. Uma enorme honra, que muito agradeço. Foi desde logo uma noite em que o Passado se fez sentir, da melhor forma possível. Na inauguração da Temporada, homenageavam-se Nuno Sottomayor Megre e João Cortes, duas das maiores figuras da tauromaquia nacional. Este último, cabo do Grupo de Montemor entre 1979 e 1984, histórico forcado de caras e pai do “nosso” Duarte e do Zé Maria, com quem tantas vezes rivalizámos neste século e cuja falta muito sentimos. Em relação a Nuno Megre, é difícil imaginar uma homenagem que faça mais sentido. Para além das estatísticas assombrosas, as pegas históricas e a influência em tantos forcados, retenho a força constante da sua presença – discreta, mas sempre positiva e encorajadora – ao longo dos muitos anos que já acompanho o Grupo, e que sei que irá continuar. Mais uma vez, uma fusão perfeita entre o passado e o futuro, à boa maneira GFAS. Muito obrigado por tudo! Como estávamos na primeira corrida da temporada em Lisboa, é difícil não nos inquietarmos com o Futuro desta praça… E julgo que devemos fazê-lo. Ter visto a praça cheia e com enorme ambiente na passada quinta-feira não afasta a preocupação com a “Sagres Campo Pequeno” e o seu visível embaraço (na sinalética, no website, na comunicação) com a herança tauromáquica, que sabemos ser a única razão da sua existência. Numa cidade mais turística do que nunca, e com as condições de conforto que oferece o actual recinto, os quatro espectáculos agendados para esta temporada parecem-me estar aquém do grande potencial que há por explorar. Só espero que haja visão (e ainda tempo) para entender esse capital. Mas voltemos ao tempo Presente, e neste caso ao êxito da corrida de dia 4 de Julho. Lidaram-se toiros de Murteira Grave, assinalando-se os 80 anos (!) da sua fundação. João Moura Jr., Marcos Bastinhas e António Ribeiro Telles filho compuseram o cartel a cavalo, completando o cartel o Grupo de Montemor. Destaco apenas o nosso Grupo de Santarém, que nos brindou com uma grande noite! Séria, completa, “redonda”: três excelentes pegas à primeira de João Faro, Francisco Cabaço e Joaquim Grave, com três primeiras ajudas diferentes (João Manoel, Salvador Nobre e Francisco Lopes) e um “novo” e eficiente rabejador (Pedro Valério). Impossível não destacar a pega inesquecível ao terceiro toiro pelo Francisco Grave Jesus Cabaço (para o Panteão do novo Campo Pequeno!) e a forma exímia como o Grupo continua a ajudar, em linha com a brilhante Feira do Ribatejo a que todos assistimos. Uma noite emocionante e quase perfeita, que continuou pela noite dentro na Rua das Janelas Verdes. Num dia em que gerações inteiras do Grupo de Santarém vieram em peso a Lisboa agradecer à figura de Nuno Megre, o Grupo actual fez-lhe a melhor das homenagens. Ainda há noites mágicas no Campo Pequeno…que tenhamos ainda muitas mais. Joaquim Pedro Torres
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